sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Autárquicas 2009

Noite Eleitoral dá maioria absoluta ao PS e exclui a CDU dos comandos da autarquia


Faialenses dão voto de confiança a João Castro


A noite eleitoral do passado domingo deu a vitória ao PS no Faial, que reelegeu João Castro como presidente da Câmara Municipal da Horta, desta feita com uma maioria absoluta. Com 45,17% da intenção de voto, os socialistas elegeram quatro vereadores para a autarquia, deixando o segundo partido mais votado – o PSD – a 387 votos de distância. A equipa laranja liderada pelo independente Paulo Oliveira elegeu três vereadores, ficando-se no entanto pelo segundo lugar, aquém dos objectivos a que se propunha. Apesar disso, em relação a 2005 o PSD foi o partido que assistiu a um maior aumento de votos.

Os comunistas sofreram uma pesada derrota, ao perder os dois vereadores que haviam conquistado em 2005. Para a Câmara Municipal, os bloquistas tiveram 123 votos (mais 43 que em 2005) enquanto os populares assistiram a uma descida de 50 votos em relação às últimas eleições, ficando-se pelos 105.

Apesar dos faialenses decidirem dar um voto de confiança a João Castro, no que diz respeito à Assembleia Municipal o socialista Renato Leal não teve a mesma sorte, tendo sido a lista laranja, encabeçada por Jorge Costa Pereira a arrecadar mais votos.

Nas Juntas de Freguesia, tudo na mesma em relação ao anterior mandato, à excepção de Pedro Miguel, onde as intercalares de 2007 tinham dado a vitória ao PS, que agora perdeu a Junta para os social-democratas. Contas feitas, são sete as freguesias com vitórias socialistas, e seis aquelas onde venceu o PSD.

Nos números da abstenção, a população faialense teve uma grande afluência às urnas, com a média de abstencionistas a ficar-se pelos 35%. Pedro Miguel foi a freguesia com mais votantes – cerca de 80% - , tendo as Angústias sido a freguesia mais abstencionista, com apenas 52,4% de votantes.

Feitas as contas ao resultado eleitoral, a Assembleia Municipal ficará composta por 16 deputados social-democratas, 16 deputados socialistas e dois deputados comunistas, isto com os presidentes de Junta já incluídos.

Na Região, a noite foi de César, com o PS a conquistar a liderança na maioria das autarquias. Ponta Delgada foi a grande excepção, onde a líder regional do PSD se mantém firme na liderança, deixando o socialista Paulo Casaca a mais de 8500 votos de distância. Em relação a 2005 o PS apenas perdeu para o PSD a vila do Porto, em Santa Maria. Ao invés, os socialistas conseguiram vitórias surpreendentes em municípios até então pintados de laranja. Foram eles as Lajes do Pico, as Velas de São Jorge, Vila Franco do Campo e Povoação, em São Miguel, e Santa Cruz da Graciosa. O PS manteve Corvo, Santa Cruz das Flores, Praia da Vitória, Ribeira Grande, Lagoa e Angra do Heroísmo, sendo que nesta última autarquia, apesar da vitória, perde a maioria absoluta. Já o PSD manteve, para além de Ponta Delgada, as Lajes das Flores, Madalena e São Roque do Pico, Calheta de São Jorge e o Nordeste.

A nível nacional, o PS vence em número de votos, no entanto o PSD continua a ser o partido com mais Câmaras Municipais.


João Castro

“Os faialenses decidiram premiar a gestão do município nos últimos quatro anos”

João Castro mostrou-se satisfeito com o voto de confiança da população. A maioria absoluta na Câmara Municipal e a conquista de sete Juntas de Freguesia fazem com que o agora reeleito presidente do Município veja o PS como “grande vencedor”. “Foram eleições muito disputadas, que reflectiram a vontade popular. Julgo que conseguimos passar uma mensagem de um percurso, uma equipa e um projecto que as pessoas apreenderam”, refere.

Em relação à Assembleia Municipal, João Castro não entende o resultado como uma derrota pessoal de Renato Leal, mas sim como um reflexo da “intenção das pessoas em diferenciar a votação”. Quanto a Renato Leal, o autarca entende que “já deu muitas provas na nossa terra. O facto de não ter estado no Faial em permanência face às funções que desempenha na Assembleia da República poderá ter influenciado o resultado”, admite. João Castro não vê a actual composição da AM, onde o PS e o PSD terão o mesmo número de deputados, como uma situação a ultrapassar mas sim como “um reflexo da votação popular”. “Se as pessoas acharam que este seria o melhor cenário teremos de saber geri-lo, trabalhar com ele e encontrar as melhores soluções”. O facto de não se vislumbrar um acordo explícito entre as bancadas comunista e socialista também não preocupa o autarca, que considera que “os eleitos se irão pôr ao serviço da comunidade e do Faial, e irão colocar os interesses da nossa ilha acima dos interesses partidários”. “Estou confiante que se conseguirá um entendimento em questões essenciais para o concelho, nomeadamente em questões muito importantes, como é o caso do saneamento básico”, confessa.

Também defensor do sucesso do acordo pós-eleitoral que uniu PS e CDU, João Castro não vê o resultado dos comunistas como um “castigo” em relação a essa posição. Ao invés, entende que a CDU foi “alvo de uma bipolarização do processo eleitoral”. “A partir de determinada altura na comunicação social tentou-se fazer passar a imagem de que haveria essencialmente dois partidos na corrida, e houve um deslocar de eleitorado no sentido do voto útil”, considera.

João Castro não tem dúvidas de que “os faialenses decidiram premiar a gestão do município e o trabalho nos últimos quatro anos”. “Acho que estamos a dar passos firmes e seguros. Uma das sondagens, inclusive, mostrava que os principais problemas levantados pelas pessoas coincidiam com as principais preocupações da autarquia, para as quais estamos a direccionar as nossas energias”, lembra.

Em relação ao número de votantes mobilizado, João Castro entende que se trata de “um sinal de que o poder autárquico sai reforçado e constitui actualmente uma base determinante da participação democrática. Reflecte também a responsabilidade que o poder autárquico tem de contacto directo com as pessoas e resolução dos seus problemas”. “Já tínhamos verificado que havia uma forte vontade de participar, na forma como as pessoas aderiram na formação de listas, e isso viu-se também no acto eleitoral, com uma participação massiva que nos deixa orgulhosos. As pessoas estão disponíveis para participar desde que os problemas lhes digam respeito e entendam a mensagem”, frisa.

João Castro garantiu que José Leonardo, Alzira Silva e Rui Santos irão ocupar os respectivos lugares como vereadores, no entanto escusou-se a adiantar como será feita a distribuição dos pelouros, referindo apenas que irão ser tidas em conta as competências de cada um. Apesar disso, Alzira Silva, que deverá desempenhar as funções a meio tempo uma vez que é actualmente deputada regional, ficará provavelmente com a cultura, enquanto Rui Santos, que se espera que deixe de ser director regional do Desporto no final do mês, irá provavelmente tutelar essa mesma área na autarquia. A José Leonardo caberão provavelmente grande parte das áreas até agora da responsabilidade de Orlando Rosa, a quem sucede na qualidade de vice-presidente do município.


Paulo Oliveira

“Não viro as costas às pessoas que confiam em mim”

Foram 387 os votos que separaram o PSD do PS nas eleições para a Câmara Municipal do passado domingo, e ditaram aquilo que Paulo Oliveira, candidato independente apoiado pelos social-democratas, entendeu como uma derrota pessoal. No entanto, para o PSD nem tudo são espinhos no “mar de rosas” eleitoral, e Oliveira salienta isso mesmo: “o PSD aumentou o número de votos em 1147, ganhou a Assembleia Municipal e mais uma Junta de Freguesia”, refere.

Reflectindo sobre as razões que terão levado a estes resultados, o candidato continua confiante na qualidade do programa e da campanha apresentados: “achamos que continuam válidos os pressupostos que defendemos: a atitude, a requalificação urbana e a valorização do meio rural”. Posto isto, Oliveira identifica os “calcanhares de Aquiles” que terão conduzido a este resultado: “assumo alguma dificuldade na comunicação, designadamente no meio rural, e o desconhecimento do candidato. Acho que foram os dois principais factores que levaram a esta diferença de votos”, entende.

Instado a pronunciar-se sobre se ocupará ou não o cargo de vereador para que foi eleito, Paulo Oliveira é peremptório a afirmar que sim: “não viro as costas às pessoas que confiam em mim”, frisa. Como ele, também Fernando Guerra e Rosa Dart, restantes vereadores eleitos do PSD, irão assumir o cargo. Nesse sentido, Oliveira frisa que “a equipa da candidatura Mais Faial não terminou na noite eleitoral, apesar dos resultados”. “Espero que esta equipa esteja coesa para os próximos quatro anos”, acrescenta.

Oliveira destaca a quantidade de votantes nestas eleições e a mobilização que se criou à volta da sua candidatura como factores que lhe dão ânimo para trabalhar dentro da Câmara Municipal e fora dela. “Não queremos desiludir quem votou em nós, por isso iremos honrar o compromisso assumido. Queremos levar essa atitude para a CMH, na medida do que nos deixarem trabalhar. Não nos podemos esquecer de que o PS tem maioria absoluta, e não tem desculpas para não cumprir o seu programa, porque tem liberdade para o executar”, refere.

Quando questionado sobre a possibilidade de voltar a ser candidato nas próximas autárquicas, Oliveira entende que quatro anos é muito tempo e por isso não faz previsões. “Vamos continuar o nosso trabalho, queremos fazer um mandato sem desiludir ninguém. Não podemos desperdiçar este movimento da candidatura e, agora na oposição, queremos surpreender pela positiva”, diz.


José Decq Mota

“Estou habituado a grandes vitórias e a grandes derrotas”

A CDU terá sido a principal derrotada da noite eleitoral, ao perder mais de 1200 votos em relação a 2005, perdendo os dois vereadores então eleitos. José Decq Mota entende que “é uma derrota estrondosa, tão estrondosa quanto foi a vitória há quatro anos. As pessoas resolveram voltar a apostar na concentração de votos”, refere.

Quando se trata de apontar as causas, Decq Mota entende que as respostas são várias: “uns dirão que é a condenação da acção da CDU na Câmara, outros que se tratou de uma bipolarização”, exemplifica.

O candidato reitera que o último mandato autárquico, em que vigorou a maioria plural formada por PS e CDU, foi “mais equilibrado, produtivo e criativo, e correspondeu melhor aos anseios das pessoas”. Destacando principalmente o trabalho de Maria do Céu Brito, Decq Mota entende que a dinâmica criada com esta forma de governação é impossível de conseguir com uma maioria absoluta, e lamenta que o eleitorado não tenha tido essa percepção.

Decq Mota foi muitas vezes acusado ao longo dos últimos anos de ter perdido a sua postura reivindicativa, em função da colaboração com o PS. O candidato tem noção disso, e acusa o PSD de ter feito bandeira dessa acusação, fazendo “terrorismo político” que prejudicou a CDU. No entanto, Decq Mota afirma que lutou sempre pelas causas que defendia, apenas de uma forma diferente, de acordo com o acordo pós-eleitoral. “A minha luta política sempre se centrou no combate às maiorias absolutas. Quando se faz esse combate e se consegue que uma maioria seja derrotada, como aconteceu em 2005, não se pode depois na governação dizer ‘Eu não participo’. Isto é incoerente”, explica, acrescentando que o que aconteceu foi que “quem valorizou o trabalho feito na autarquia endossou-o à maioria plural, e aqueles que não valorizaram votaram na oposição”. No entanto, não se arrepende do acordo.

Quanto ao candidato independente do PSD, Decq Mota considera que o único contributo que trouxe foi “para o regresso das maiorias absolutas”.

O comunista considera também que o partido foi prejudicado pelas sondagens: “em Portugal não há condições sociais e políticas para que sejam permitidas sondagens em cima das eleições. Acho que a sondagem publicada, da qual duvidei sempre, porque dava algo que não havia, que era empate técnico, prejudicou a CDU”. Para Decq Mota, o facto da sondagem atribuir um vereador à CDU fez com que algum eleitorado que iria votar CDU decidisse ao invés contribuir para o desempate entre PS e PSD.

Dizendo-se “habituado a grandes vitórias e a grandes derrotas” na sua vida política, Decq Mota entende que representa “uma força política pequena, que consegue desbipolarizar em certos momentos, mas é muito difícil manter essa desbipolarização”

Em relação à Assembleia Municipal, Decq Mota duvida da possibilidade de um acordo global entre CDU e PS: “a postura dos deputados municipais da CDU será interventiva e criativa em função das situações, sempre aberta ao diálogo”.

Quanto ao futuro, Decq Mota garante que não vai abandonar a política: “sou membro do Conselho Regional do PCP, estou na Comissão da CDU do Faial, e vou trabalhar, não só ajudando os eleitos e os activistas da CDU mas também trabalhando para a construção do futuro. A CDU apresentou listas com bastantes caras novas, gente etariamente jovem, que são o futuro e é preciso trabalhar para consolidar a participação dessas pessoas. Vou dar o meu contributo para que a CDU não se deixe amarfanhar pelo resultado eleitoral e que seja uma força activa”, frisa. Decq Mota promete também estar atento ao desenvolvimento dos projectos em que a CDU estava envolvida. E deixa um aviso: “Acho que nos Açores, nos próximos quatro anos, as ilhas mais pequenas assistirão a uma tendência para escassear o investimento público regional, porque o PS reforçou a sua posição nos municípios, conquistou a Associação de Municípios, absolutizou o seu poder regional em termos autárquicos, e isso vai-se reflectir na concentração de investimento, que é a linha dominante do PS, e também foi do PSD quando foi Governo Regional. Apelo a que as sociedades se organizem para lutar pelos seus interesses”.

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