sexta-feira, 10 de julho de 2009

Ângelo Duarte, presidente da Câmara do Comércio e Indústria da Horta, alerta


A Câmara do Comércio da Horta não pode servir para fazer campanha política


Volvidos cerca de cem dias desde a tomada de posse da actual direcção da Câmara do Comércio e Indústria da Horta (CCIH), Ângelo Duarte, presidente da instituição, dá a sua primeira entrevista nessa qualidade.

Na altura de fazer o balanço das primeiras actividades, e preparar um projecto para os próximos anos, que se avizinham difíceis para o sector empresarial, o líder dos empresários fala das principais dificuldades que a CCIH enfrenta.

A dívida de mais de 300 mil euros é a grande prioridade, assim como a recuperação da actual sede, e a continuação de um trabalho de dinamização empresarial que se quer igual em todas as ilhas de abrangência.

Com as eleições à porta, Ângelo Duarte deixa o aviso a todos os candidatos: a CCIH não é uma instituição política, e não deve servir para arma de arremesso eleitoral entre candidatos.


Que balanço faz dos primeiros cem dias de mandato desta direcção?

Tivemos a sorte de conseguir organizar de forma rápida o Núcleo Empresarial das Flores e Corvo, e também o do Pico. Contámos para isso com a colaboração dos nossos associados mais chegados e com interesse nesta área, que se disponibilizaram para dar um contributo a este processo associativo, considerando a nossa dispersão pelas quatro ilhas. É importante contarmos com eles no desenvolvimento de espírito de equipa para valorizarmos a nossa postura pública na defesa dos interesses de cada uma das ilhas. Foi aliás nessa perspectiva que quisemos também que os nossos órgãos sociais tivessem pessoas do Faial, Pico e Flores.

Estamos agora a trabalhar no sentido de ter mesas sectoriais com elementos de todas as ilhas, para que todas estejam em pé de igualdade, e para que todos conheçam a realidade de cada uma das ilh

as. Prevemos eleger estas mesas dentro de um mês, e assim fechar a equipa de trabalho, com o objectivo de estarmos todos a contribuir para o desenvolvimento das ilhas em que estamos inseridos.

Estamos a reunir com as sete autarquias da nossa área de abrangência, também com o objectivo de perceber o que é que poderemos defender enquanto parceiros, estando inseridos no mesmo espaço geográfico, no sentido de potenciar o desenvolvimento de uma ideia de trabalho que reúna interesses de autarcas e associados.

Reunimos também com a ACIP, nossa parceira comercial, e ficámos a perceber o que poderá ser potenciado de modo a explorarmos os nossos interesses comuns no desenvolvimento da ilha do Pico. Dessa reunião, percebemos que comungamos da opinião da ACIP e do autarca de São Roque quanto às ligações marítimas: em relação à ligação Velas/Cais/Velas, achamos que é importante existir um barco que viaje mais que uma vez por dia, porque, uma vez que há uma boa ligação Faial/Madalena, poderíamos ter Faial/Pico, pela Madalena, e depois Pico/São Jorge, pelo Cais.

Durante o primeiro ano queremos promover no total 14 seminários, dois em cada concelho, para divulgar os incentivos deste Quadro Comunitário, para que as pessoas possam deles usufruir, de forma organizada e consciente.

Queremos também começar a pôr a Expomar 2009 de pé, e fazer dela um grande acontecimento. Pretendemos ainda organizar Feiras no Pico, no Faial e nas Flores, em parceria com as autarquias.

Com tudo isto queremos promover cada vez mais uma dinâmica empresarial de interesse, e despertar o comércio, dinamizando um tecido empresarial que, apesar de pequeno, poderá dar um contributo à nossa economia, e manter-se, principalmente nesta fase de crise.

Em termos internos, estamos a reestruturar o nosso funcionamento, para sermos mais eficazes e mais úteis aos associados. Queremos também restaurar a sede, temos graves problemas de humidade e estruturas, e não vamos conseguir passar aqui o Inverno.


Está satisfeito com o trabalho desenvolvido até ao momento?

Não estamos satisfeitos. Estaríamos, se já tivéssemos pago as dívidas que temos. Estamos a procurar uma situação financeira de equilíbrio. Neste momento já realizámos pagamentos de 40 mil euros; a reposição de um empréstimo antigo de associados e pagamento a fornecedores. Isto corresponde a um décimo das nossas dívidas. Estamos ainda a trabalhar numa área de reestruturação e encontro de valores para equacionar essa questão.


Nesse aspecto, considera que recebeu uma herança pesada da direcção anterior?

Nós recebemos um “deve haver” que não seria pesado se não fossem os incobráveis aos quais se juntam os custos de funcionamento da casa. Recebemos uma dívida de cerca de 324 mil euros. Não se pode dizer que seja suave, e temos dificuldades na gestão da casa, por esse motivo. Estamos a trabalhar para reduzi-la, acabámos de decidir outro pagamento de 40 mil euros; a reposição de um empréstimo antigo de associados e pagamento a fornecedores. Tivemos primeiro a preocupação de pagar as dívidas antigas. Já resolvemos essa parte, já pagámos os serviços da Semana do Mar 2008, que tinham sido protocolados com a CMH, sendo que tínhamos recebido o dinheiro para esse fim mas depois aplicámo-lo noutras funções e só agora conseguimos equacionar. Agora vamos tentar regularizar a situação com os fornecedores. Depois queremos regularizar a situação com as Associações. É este o nosso quadro de balanço, e queremos chegar ao fim do ano numa situação de equilíbrio financeiro.


Recentemente foi criada uma nova associação de promoção do Triângulo, a Tryangle. A CCIH optou por ficar de fora. A que se deveu esta opção?

A CCIH foi mentora da ideia e participou no desenvolvimento da estratégia. Por incompatibilidades inesperadas entre os representantes do Faial e do Pico, ficou suspensa a nossa participação. Acabámos por não estar associados ao surgimento da agência, mas acompanhámos a sua formação através da Adeliaçor, cujos órgãos sociais integramos. Pela Adeliaçor podemos fazer passar também as nossas ideias de interesse para o Triângulo.

Curiosamente num jornal local foi dito que a agência está de portas abertas para nos receber, mas não recebemos qualquer convite.


A haver um convite para a CCIH integrar a agência, seria aceite?

Estamos disponíveis para colaborar. O Faial e o Pico são ilhas da nossa abrangência, mas não queremos desvalorizar a Associação Regional do Turismo, a Associação dos Municípios do Triângulo, e todo o conjunto de entidades que já existe, entidades essas que também são grandes agentes promocionais. Esta é mais uma Associação, e espero que façam um bom trabalho.


Também se falou na possibilidade de ser criada uma Câmara do Comércio para as ilhas do Triângulo… Qual a posição da CCIH em relação a esta possibilidade?

Foi noticiado que a CCIH teria reunido com parceiras das ilhas de São Jorge e do Pico no sentido de se formar uma Câmara do Comércio e Indústria do Triângulo. Nós não só não participámos em qualquer reunião, como também não estamos disponíveis para formar uma associação comercial desse género. Entendemos que já existem suficientes associações empenhadas na defesa dos comerciantes dessas ilhas. A nossa dimensão não justifica mais uma.


Já enquanto presidente da CCIH lembrou por várias vezes o actual cenário global de crise. Que desafios se colocam aos empresários numa altura como esta?

Apesar das dificuldades, a nossa dimensão poderá permitir às empresas, na sua maioria do tipo familiar, suportar a crise. Temos efectivamente empresas a vender muito pouco, mas perspectiva-se um crescimento a partir de Setembro ou Outubro.

Estamos a pensar promover em breve uma Feira Outlet no Faial. Queremos sensibilizar os nossos associados a disponibilizarem os seus stocks mais antigos para esse fim, e encontrar aqui uma oportunidade de negócio. Neste momento estamos a tentar perceber qual a melhor data para a sua realização.


A nossa economia local depende bastante do Turismo. Preocupa-o que haja uma quebra este Verão?

Sim. Nós tivemos agora em Junho um pico muito alto na ocupação, com a realização do Rally Ilha Azul e da Feira Açores. Tivemos de colocar no Pico algumas pessoas a pernoitar. Penso que o Pico precisa de mais hotelaria, e seria extremamente importante criar condições para uma unidade hoteleira com capitais regionais, públicos e privados.

Estamos a chegar à época alta, e devemos lembrar-nos que esta no Faial dura menos de dois meses, e temos de encontrar soluções para contornar essa condicionante. Penso que as soluções passam pelos grandes eventos. Estivemos no Rally da Madalena e, em conversa com os Clubes automóveis da Terceira, do Pico e do Faial, percebemos que podemos ir às Flores promover um evento desta natureza; um acontecimento de elevado interesse que mobiliza muita gente. Promover eventos desta natureza e outros que nos tragam mais pessoas é o caminho a seguir. O Faial está beneficiado, principalmente pelo seu turismo náutico de alto nível, mas queremos potenciar de igual forma o Turismo no Pico, nas Flores e no Corvo.


Em Outubro realizam-se eleições autárquicas. Para a CCIH, que perfil deverá ter o próximo presidente da CMH, no que toca aos interesses dos empresários locais?

Antes de mais, gostaria de lamentar a associação da CCIH a uma determinada candidatura. Nós não nos revemos nessa forma de estar. Esta casa não é política, nem vai fazer política.

Interessam-nos pessoas abertas, com interesse nas nossas necessidades. O actual presidente da Câmara Municipal tem mostrado muito interesse e criado uma grande abertura na relação connosco. Penso que esta CCIH tem crescido e tido uma apresentação mais pública de há cinco anos a essa parte precisamente por isso, veja-se a nossa participação nos vários eventos concelhios. Qualquer candidato para nós será bom, desde que esteja aberto a projectos e parcerias com interesse económico para os nossos associados. Independentemente do candidato que seja eleito, queremos apenas apresentar-lhe o nosso projecto de trabalho. Sendo a CCIH uma casa sem fins lucrativos, estamos sempre interessados em promover parcerias que nos permitam desenvolver certos projectos.


O facto do candidato do PSD à autarquia faialense ser também vice-presidente da CCIH tem dificultado a manutenção dessa postura de imparcialidade política que pretende para esta instituição?

Foi esse candidato independente que associou a CCIH ao desenvolvimento de parcerias. Eu entendo que uma ideia dessas só poderá existir depois das eleições. Nós não misturamos as coisas. Não nos revemos nesse projecto dessa forma. Temos um vice-presidente que o vai continuar a ser, está agora numa situação de candidato à CMH, e muito bem, porque vem valorizar a democracia. Isso não nos traz qualquer dificuldade. Não pode é usar o nome da CCIH na sua atitude de campanha.


Apesar da sua vontade em manter a CCIH de fora da agenda eleitoral, a verdade é que ela tem sido uma das “armas de arremesso” nesta pré-campanha… É facilmente associável à candidatura de Paulo Oliveira, pelas funções que ele desempenha nesta casa, e também João Castro já se referiu à sua situação financeira… Preocupa-o que este tipo de discursos à volta da CCIH se agudize com o aproximar das eleições?

Espero que não. Em primeiro lugar, é com desagrado que vemos as dívidas da CCIH discutidas dessa forma em hasta pública. Temos um sentido de organização, além disso eu também fui director nos últimos seis anos, portanto tenho responsabilidade nas contas da casa. Estas efectivamente não estão bem, o presidente da Câmara quando o disse disse-o com conhecimento; de resto ele está informado da nossa situação financeira, daí o comentário. Estamos a intervir para que não tenha motivos para o voltar a fazer. Temos muito para fazer nestes três anos, e queremos encontrar as melhores soluções para esta casa. No entanto, isso não passa por fazer política. Os candidatos à autarquia devem fazer a sua campanha, mas não têm nem nunca terão a CCIH ligada à sua participação.

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