quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Atelier de Trabalhos Manuais da APADIF

Remédio para a Alma

A Associação de Pais e Amigos dos Deficientes da Ilha do Faial (APADIF) comemora este ano o seu 15.º aniversário. Hoje, a associação engloba uma série de valências, fazendo um trabalho de importância incontornável na ilha, não apenas no apoio à pessoa portadora de deficiência, mas alargando a sua área de influência a vários outros campos sociais onde a sua acção tem dado frutos. Fomos visitar uma das suas valências, o Atelier de Trabalhos Manuais, e estivémos à conversa com o presidente da APADIF, José Fialho.

4 São 19h30 da noite de quarta-feira, e o frio do Outono teima em lembrar que o Verão já lá vai, e o Inverno não tarda. As luzes do Atelier de Trabalhos Manuais da APADIF, em frente ao Polivalente de Pedro Miguel, acendem-se, denunciando a presença dos monitores, que chegam mais cedo para preparar os materiais a serem utilizados pelos utentes. Estes começam a chegar um pouco mais tarde, aos poucos. A sala enche-se de pares de olhos brilhantes, de gargalhadas de entusiasmo, de histórias para contar e ideias para partilhar. Cheira a cola, a tinta, a madeira, e a grande mesa, cujo comprimento abrange a sala inteira, enche-se de materiais. O Natal está à porta, e é tempo de preparar os projectos a realizar, para serem vendidos na Festa de Nossa Senhora da Conceição, no dia 8 de Dezembro. O som da tagarelice mistura-se com o barulho dos martelos a bater na madeira, dos pincéis, das agulhas de crochet. O par de olhos mais brilhantes na sala pertence a Mariana. Com a língua a espreitar no canto da boca, a sua atenção está toda no azulejo onde está a aplicar um anjinho através da técnica do guardanapo. Os seus olhos só se desviam do pincel para soltar gargalhadas ocasionais, que contagiam os que a rodeiam. Mariana tem 20 anos, é portadora de Trissomia 21, e é uma das 20 utentes do Atelier de Trabalhos Manuais.
“Gosto muito de vir para aqui, fazer técnica de guardanapo, pintar… O que eu gosto mais de fazer é pintar”, diz Mariana, não esquecendo o convívio com os amigos, que faz da quarta-feira o dia mais ansiado da semana. “Fazemos festas, e também vendemos as coisas que fazemos aqui, e eu também ajudo”, diz, com orgulho.
Noémia Pinto é a mãe de Mariana, e também está activamente envolvida no trabalho da APADIF, tendo ingressado recentemente a sua direcção. Falando do Atelier de Trabalhos Manuais, adianta que é um sítio “muito importante, não só para a Mariana mas para todos os que aqui vêm à quarta-feira à noite. De uma semana para a outra ficam com saudades, porque aqui têm um espaço de convívio, e isso é muito bom”. “Além disso aprendem certas técnicas e fazem os seus trabalhos, e sentem-se satisfeitos quando vêem o fruto daquilo que aprenderam”, acrescenta.
Neste sentido, Noémia frisa a importância que a acção da APADIF tem para muitas pessoas, não apenas nesta Atelier específico, mas em todas as valências, importância que tem crescido ao longo dos últimos anos. Para Noémia, o grande “culpado” é José Fialho, presidente da direcção de há sete anos a esta parte. Noémia considera, no entanto, que os faialenses ainda não se apercebem do real trabalho que a APADIF faz na sociedade: “As pessoas já vão dando valor à APADIF, mas ainda não têm muito conhecimento. Embora haja divulgação, resultado de um esforço grande do presidente, ainda pairam algumas dúvidas sobre a APADIF. Era importante que as pessoas se interessassem mais em saber, até porque esta associação faz bem a muita gente”, refere.
No Atelier de Trabalhos Manuais, a tarefa de pôr todos a trabalhar está a cargo dos monitores António Pereira e Conceição Quaresma. Carpinteiro de profissão, António encarrega-se de supervisionar as marteladas, certificando-se de que estas são mais certeiras nos pregos do que nos dedos dos artesãos. Conceição Quaresma dedica-se há muitos anos aos trabalhos manuais, e perde a conta à variedade de técnicas que conhece.
Reconhece a dificuldade de ensinar pessoas portadoras de deficiência, principalmente invisuais, mas frisa que a recompensa no final é muito maior: “vale a pena, porque eles surpreendem-nos, e surpreendem-se a eles próprios, com aquilo que são capazes de fazer”.

Remédio para a alma
4 Marta Faria é a jovem psicóloga actualmente ao serviço da APADIF, e presença assídua nas noites de quarta-feira no Atelier de Trabalhos Manuais. De acordo com a sua formação profissional, e também com a experiência que já adquiriu na associação, Marta reconhece neste tipo de valência uma série de mais-valias para os seus utentes: “o Atelier funciona como um centro de auto-ajuda, isto é, o nosso objectivo não é apenas promover a destreza manual, mas essencialmente promover o apoio psicológico e emocional”, refere. O sentimento de solidariedade que se instala dentro das paredes do Atelier é um verdadeiro “remédio” para a alma, como constata Marta: “quando um utente traz um problema todos os outros tentam resolver. O atelier funciona como uma família e penso que era bastante vantajoso que as pessoas viessem conhecer esta realidade. Estamos aqui todos com o mesmo objectivo, e partilhamos desejos, expectativas e receios”.
O Atelier funciona também como meio de espicaçar as capacidades dos portadores de deficiência que o frequentam, e os resultados são surpreendentes: “aqui eu é que me sinto com limitações; só sou capaz de recortar”, refere Marta, em tom de brincadeira, acrescentando que “estes utentes trabalham em madeira, em papel, com lãs, e conseguem ultrapassar as suas limitações”. Segundo a psicóloga, no Atelier os portadores de deficiência “conseguem sentir-se parte integrante da comunidade, e não se sentem discriminados”.
O facto dos artigos confeccionados pelos utentes do Atelier serem depois comercializados, num processo em que eles também participam, tem, na opinião de Marta, um impacto muito positivo, principalmente no aumento da sua auto-estima: “quando se deparam com um problema, estas pessoas vão abaixo, deprimem e isolam-se… São regra geral indivíduos com um auto-conceito pobre. O que noto é que os utentes do Atelier têm um auto-conceito já bastante mais positivo, e trabalham com uma felicidade enorme. Quando vêem que as pessoas gostam dos seus trabalhos ficam contentes, sentem que aquilo que fazem é valorizado, o que não acontecia até eles virem para cá”.
Instada a pronunciar-se sobre a sua realização profissional neste tipo de funções, Marta confidencia que, inicialmente, não era este o tipo de trabalho que pretendia fazer: “quando terminei a licenciatura dizia que não queria trabalhar com pessoas portadoras de deficiência, ou na área da toxicodependência. Agora, se pudesse, trabalhava só nisto”, refere. “Aqui não somos só psicólogos, temos que ter uma abertura: sou a psicóloga, mas também a amiga, e a colega na realização das actividades”, explica, acrescentando que “se aceitarmos as limitações deles, assim como eles aceitam algumas nossas, penso que isto funciona bem, e passa a ser fácil, muito cativante, e muito gratificante. Para isso basta um sorriso deles, ou uma palavra carinhosa”.


Um percurso de sucesso
4 Passando um olhar pelo número de utentes que a APADIF tem em todas as suas valências, não é possível apontar valores exactos, mas a soma ultrapassará certamente a centena.
Na direcção da APADIF desde 2001, José Fialho tem sido um dos pioneiros neste “desbravar” de caminho que se tem verificado na acção daquela Associação no Faial.
Fazendo um balanço bastante positivo dos últimos anos da APADIF, José Fialho lembra que, em 2001, a Associação não tinha sequer espaço para reunir. “O primeiro espaço que conseguimos foi o hall de entrada do dispensário, que é hoje a nossa sede”, recorda. A partir daí, e graças a grandes doses de esforço e dedicação, as valências foram surgindo, e a APADIF foi crescendo. “Abrimos o espaço de reabilitação na própria sede, com terapeuta ocupacional, terapeuta da fala e psicóloga, o trabalho começou a dar frutos, e as pessoas começaram a acreditar em nós. Depois abrimos o ATL para 20 crianças, e, como era muito procurado, passámos para 40”, refere José Fialho. O projecto Veredas é outra das conquistas da APADIF. Como explicou o presidente da Associação, destina-se à “inclusão de jovens em abandono escolar, que havia necessidade de agarrar, já que se podiam tornar um prejuízo para a sociedade e não o benefício”. “Temos de os agarrar, e garantir que irão tirar a escolaridade obrigatória”, alerta José Fialho. Outro projecto da APADIF que tem dado frutos positivos é o Trilhos Saudáveis, no Bairro das Pedreiras, para jovens daquele local. “Aí a nossa missão é criar actividades lúdicas para que os jovens estejam ocupados e se mantenham livres de dependências, não consumindo drogas nem álcool”, explica. Um dos projectos mais recentes da APADIF é o Porto Pim Digital, um espaço dedicado a promover o acesso às novas tecnologias.
Quanto a este Atelier de Trabalhos Manuais, não é um projecto recente, no entanto teve de sofrer um interregno, devido a falta de financiamento. “Agora partimos para este projecto com dinheiro nosso, e as vendas que se vão fazendo é que permitem comprar material para se trabalhar, porque os técnicos que aqui estão são voluntários”, refere José Fialho.
O vasto leque de actividades da APADIF continua a aumentar, e José Fialho aponta como uma das causas a crescente credibilidade da Associação: “as entidades governamentais começaram a acreditar no trabalho que fazemos. No início, tínhamos que pedir às entidades locais que nos ajudassem, agora muitas já tomam a iniciativa e solicitam-nos para sermos parceiros em algumas das actividades que organizam. Isso para nós é bom, pois vemos que a população reconhece que estamos no bom caminho”.
Hoje em dia a APADIF não ajuda apenas os portadores de deficiência, mas várias outras pessoas com dificuldades. O seu crescimento traduz-se também no aumento do número de funcionários, tendo-se tornado uma importante empregadora de mão-de-obra qualificada: “já temos 19 funcionários, a maioria deles licenciados. Assistentes sociais, educadoras de infância, psicóloga… Temos quadros que vão dando resposta as necessidades, e todos os dias nos aparecem novos utentes, novas pessoas a pedir-nos ajuda”, refere o presidente.
Para José Fialho, a sociedade está cada vez mais consciente da importância que a APADIF tem no seu seio, e aponta como prova o sucesso das comemorações do 15.º aniversário: “tivemos três dias de actividades, que eu tive receio que não fossem cumpridas, mas foram. Todos os utentes trabalharam em conjunto e pusemos de pé um evento interessante”, refere. No entanto, o crescimento do interesse da Associação também significa trabalhos redobrados para quem a coordena: “temos receio de a certa altura não termos capacidade de resposta; já não pode passar um dia sem que eu vá à Associação. Para quem anda nisto no voluntariado é complicado”, refere José Fialho, acrescentando que, apesar das dificuldades, no final o sentimento é sempre de recompensa.
O presidente da APADIF orgulha-se da imagem de credibilidade e responsabilidade que a associação tem conseguido promover: “posso dizer-lhe com algum orgulho que tenho um bom relacionamento com todas as instâncias da ilha e até com o Governo Regional, não por uma questão de cores partidárias mas porque quando fazemos um projecto, fazemo-lo credível, e temos cumprido tudo o que nos propomos fazer”. “Ás vezes as pessoas procuram-nos com problemas que devem ser tratados noutras instâncias, mas têm confiança em nós e querem que lhe indicamos o caminho. Isso para mim é muito importante e orgulho-me de ter técnicos que sejam capazes de dar resposta a todas as necessidades”, refere. De facto, para José Fialho, um dos segredos desta receita de sucesso é a equipa de trabalho: “temos vindo a imprimir ao longo deste tempo nos nossos funcionários que sejam polivalentes e trabalhem para o utente”, refere.
José Fialho sente-se satisfeito com a crescente sensibilização da comunidade faialense para os problemas que os portadores de deficiência enfrentam no dia-a-dia, no entanto refere que, neste aspecto, ainda há um longo caminho a percorrer, Nesse sentido, as iniciativas levadas a cabo pela APADIF no aniversário foram passos importantes: “falámos e mostrámos os problemas que estas pessoas têm na ilha, e penso que a comunidade nunca se tinha apercebido de que fossem tanto”, refere José Fialho.
“Mostrámos os obstáculos que há na cidade para pessoas invisuais, ou utilizadores de cadeiras de rodas: passeios não rebaixados, cabines telefónicas mal instaladas, multibancos muito altos, papeleiras que são obstáculos para invisuais… As próprias pessoas deixam por vezes os caixotes do lixo na rua de qualquer maneira, os comerciantes, as caixas de cartão…”, revela o presidente da APADIF.
José Fialho ficou muito satisfeito com as conclusões a que o vice-presidente da Câmara Municipal da Horta, Orlando Rosa, chegou no colóquio promovido pela APADIF sobre estas questões: “depois de ouvir o que dissemos, concluiu que muitas coisas devem ser feitas já, até porque não implicam grandes gastos, e resolvem-se grandes problemas”, revelou José Fialho, com optimismo. A tão aguardada obra do Saneamento Básico deve ser também, para o presidente da APADIF, uma oportunidade para melhorar este tipo de situações.

Planos para o futuro
4 Falando de futuro, a Associação tem dois projectos ambiciosos, que anseia por levar a bom porto: “um deles, com o qual queremos arrancar em Janeiro, é a ampliação da escola da Volta, para criação de uma creche, que queremos ter a funcionar no próximo ano lectivo, com capacidade para 33 crianças”, refere José Fialho, acrescentando que o projecto, apoiado pela Direcção Regional da Solidariedade Social, já foi aprovado.
O outro grande projecto da APADIF é na área da Terceira Idade: “este ano vamos ficar responsáveis pela parte de Educação Física de todos os centros de convívio da ilha, e fizemos uma proposta para ter também as actividades lúdicas sob nossa tutela”, informa José Fialho. Estes dois projectos são os grandes desafios da APADIF, no entanto, existem outros factores que a Associação quer ver melhorados.
Quanto ao Atelier de Trabalhos Manuais, o desafio é conseguir fazer com que funcione não apenas um dia por semana, e que tenha outra visibilidade. “Queremos que esteja aberto no fim-de-semana para as pessoas verem os trabalhos feitos pelos utentes, e no Verão também, para que os turistas possam visitar, porque quando as pessoas vêem quem trabalha aqui e quem faz estes objectos têm logo outro carinho. Para nós, dar a conhecer o que fazemos é muito importante”, refere.
Por agora, no Atelier de Trabalhos Manuais trabalha-se com afinco, na produção de peças que serão expostas e vendidas na Festa de Nossa Senhora da Conceição, no dia 8 de Dezembro.
O último vôo do Açor


4Uma das notícias da semana foi o anúncio do fim da carreira de jogador de Pedro Pauleta.
Nascido em 1973, na ilha de São Miguel, Pauleta tem sido um dos maiores embaixadores dos Açores no mundo.
Nunca jogou na primeira divisão portuguesa, mas fez furor por outras paragens, e teve Paris rendido aos seus pés enquanto jogou no Paris Saint-German, clube que representava desde 2003 e onde acabou este ano a sua carreira, e do qual será embaixador.
Ao serviço da selecção nacional, alinhou em 88 partidas, e marcou 47 golos, ultrapassando Eusébio e tornando-se no melhor marcador de sempre na história dos "tugas". Scolari chamou-lhe "matador" na grande área, e os companheiros de equipa sempre elogiaram as suas qualidades técnicas e humanas. Ficou conhecido como "ciclone dos Açores", e a sua imagem de marca depois de "fuzilar" dezenas de guarda-redes com o seu pontapé certeiro era o "vôo do Açor".
Àparte as suas capacidades técnicas de excelência, o homem por detrás do futebolista foi sempre um orgulho para os Açores e para Portugal - e continuará, por certo, a sê-lo - pela integridade e dignidade que sempre soube ter em campo, e fora dele. O seu carácter deveria ser exemplo para muitas jovens "estrelas" do futebol, cuja espetacular capacidade técnica não anula a falta de carácter e de valores, por muito que se possa pensar o contrário.
O açor não voltará a voar no relvado do Parque dos Príncipes, mas Pedro Pauleta certamente continuará a contribuir para o engradecimento do futebol, agora fora das quatro linhas.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Novo Governo

4 O X Governo Regional já tomou posse, e todo o processo ficou marcado pela polémica eleição do presidente da Assembleia. Fernando Menezes não gostou de não ter sido escolhido novamente para o cargo, e bateu com a porta, deixando a cadeira de deputado vazia, que depois foi ocupada por Ana Luís. A escolha do terceirense Francisco Coelho para o cargo já era um rumor em plena campanha eleitoral, mas subsistia a esperança que de Menezes "bizasse" na presidência da Assembleia, caso contrário, por que razão teria ele encabeçado a lista socialista no Faial? Como disse - e bem - Luís Garcia, não se convida um general para ser soldado...
Não é de estranhar que Menezes não tenha gostado da despromoção, mas é de condenar a maneira como ele (e não só) manda a vontade dos faialenses que o elegeram como deputado às urtigas. Seria bom que todos os candidatos a deputados se colocassem em tal posição com dignidade para assumir a vontade dos cidadãos eleitores.
Em relação à ausência de faialenses no Governo, e apesar de César dizer o contrário, é claro até para o maior dos ingénuos que isso não traz benefícios nenhuns à nossa ilha. No entanto, as escolhas estão feitas, e cá vamos nós ficando relegados para uma imporância menor num arquipélago onde os centralismos continuam a existir, diga o que se disser.
No entanto nem tudo são espinhos neste arranque de legislatura: O grupo parlamentar socialista - liderado por Hélder Silva - apresentou uma proposta de alteração ao regime de financiamento dos partidos representados no Parlamento, no sentido de cortar as despesas. Numa altura em que a crise paira sobre o mundo como um bicho papão, é bom ver que, por uma vez, os deputados irão dar o exemplo, e "apertar o cinto", como o comum dos mortais. Se bem que o cinto do comum dos mortais já tem os furos encostados à fivela...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008


E nós aqui no meio de não saber de nada

Teatro de Giz estreia nova peça

“E nós aqui no meio de não saber de nada”, assim se intitula o mais recente trabalho do Teatro de Giz, que sobe ao palco do Teatro Faialense na próxima quarta-feira, dia 26 de Novembro, a partir das 21h30.
Com encenação de Tiago Porteiro, este trabalho surge da vontade do Teatro de Giz de não deixar em branco a efeméride do 50.º aniversário do Vulcão dos Capelinhos. Inicialmente com um apoio previsto da Comissão Executiva das Comemorações, o Teatro de Giz teve de ajustar as ideias que tinha para este projecto, em virtude do referido apoio nunca ter chegado. No entanto, não baixaram os braços, e a peça aí está, pronta a apresentar ao público faialense.
Um trabalho ambicioso, resultado de uma série de workshops na área da escrita, da música e da fotografia, que ganha forma a partir da coordenação das várias áreas em cima do palco.
Estivémos à conversa com Tiago Porteiro, que nos falou um pouco deste projecto.


Como é que surge a ideia desta peça?
A peça surgiu no contexto dos 50 anos do Vulcão, e foi proposta à Comissão Executiva. Num primeiro momento o acolhimento a este projecto foi positivo, e ele foi-se construindo a partir daí, mas depois a Comissão deu o dito por não dito, por isso a peça ficou de fora do programa, mas o Teatro de Giz achou por bem continuar com o projecto.
Contámos com o apoio da Direcção Regional da Cultura, da Câmara Municipal da Horta e da Hortaludus, e de uma série de outras entidades que ajudaram a por de pé o projecto, para além de um grande esforço dos elementos do Teatro de Giz.

Fale-nos um pouco do processo…
Era um projecto ambicioso, que tinha a intenção de envolver toda a ilha, fazendo pequenos espectáculos. Por vários motivos, nomeadamente a falta de apoio da Comissão Executiva das Comemorações do aniversário do Vulcão, acabámos por reduzir a este espectáculo no Teatro Faialense.
Desde início a ideia foi partir de linguagens diversificadas e cruzadas, numa abordagem do Teatro como possibilidade de cruzamento de linguagens: imagem, música, escrita de texto, e depois toda a parte de encenação. Por isso pensámos um projecto ao longo do ano, onde os elementos do Teatro de Giz, e não só, iriam passar por diferentes oficinas, e ir preparando os elementos que depois iriam compor o espectáculo.
Houve a oficina da imagem (dirigida por Virgílio Ferreira), um trabalho de escrita, orientado pelo dramaturgo Carlos Machado, onde o texto foi escrito, e uma oficina de música, orientada por Carlos Guerreiro. Foi a partir desse material que eu fui trabalhar.
A proposta do grupo da escrita não foi no sentido de documentar o Vulcão, porque houve muita coisa escrita e dita sobre isso. Preferiram enveredar por um caminho sui generis e curioso, partindo da seguinte ideia: o que é que seria uma abalo interno; um vulcão no interior de uma pessoa? Pode fazer-se uma alusão fantástica, imaginária, às pessoas que vivenciaram o Vulcão, mas do ponto de vista das perturbações internas e íntimas que por analogia se possa comparar entre um vulcão na natureza e um vulcão no interior de uma pessoa. Era uma matéria textual muito particular; estranha, do ponto de vista dramatúrgico, com muito poucos diálogos, muito fragmentada, muito discutida. Depois disso, começou-se a trabalhar. Eu não vivo cá, vim cá duas ou três vezes, para começarmos a meter a mão nessa lava. Pouco a pouco foi-se reescrevendo, adaptando articulando, escolhendo os actores, criando a equipa e a dinâmica de trabalho, e tudo isso veio a resultar neste espectáculo.

Foi um processo complicado?

Sim, todos os processos são particulares, e este é um projecto de teatro que envolve muita gente, pessoas com vários níveis de experiência, com um texto com as particularidades que este tinha, com a minha vinda fragmentada… Além disso, a temática do Vulcão é peculiar, pois é difícil captar essa força enorme; desmesurada, que é a força do mundo, no fundo, porque os vulcões foram o berço do surgimento da vida. Foi um desafio enorme; todos esses ingredientes fizeram com que não fosse um processo simples, mas sim uma aventura criativa, e humana. Ainda a uma semana da peça estamos a ver aparecer coisas. É um processo de descoberta.

Como é que o Tiago embarca nesta aventura?
Embarco de forma natural. O Teatro de Giz queria integrar as Comemorações dos 50 anos do Vulcão; achava que não podia passar ao lado da efeméride, tão particular para o Faial. Eu estava por cá, por acaso, e sugeriram-me que apresentasse uma proposta, o que eu fiz. Conheço muita gente do grupo, sou de cá, trabalho em Teatro, já tinha trabalhado com o grupo há 10 anos… Foi um processo natural. E eu tinha o desejo de voltar a trabalhar com o Teatro de Giz, na minha terra, e neste caso foi muito especial trabalhar pela primeira vez no Teatro Faialense, que estava fechado quando eu era miúdo… Foi um desafio diferente.

O que é que o Tiago diria para convencer o público a vir ver a peça?
Venham ver!. Quis-se um espectáculo heterogéneo, que tem música ao vivo, imagem, luz, trabalho de actores… Tem ingredientes de diversas linguagens. Implica alguma tecnologia também, que ajuda a trazer espectacularidade ao conjunto. E, sobretudo, tem também estas palavras muito particulares, dos “habitantes imaginários” do Capelo e do Faial, que vivenciaram o Vulcão.
Tenho um desejo particular de que as pessoas do Capelo, com ligação mais particular ao Vulcão, venham ver a peça. Acho que é uma abordagem à temática do Vulcão nunca vista, e isso é aliciante para que muitas pessoas que não vêm por hábito ao teatro virem ver, interrogar, criticar, aplaudir, discutir connosco. Penso que não serão defraudadas.
Não se coíbam de vir ao Teatro, porque o Teatro é esse lugar de cruzamento de pessoas diferentes, com mais ou menos prática, de uma multiplicidade de pontos de vista, de identidades diferentes, o que faz com que o Teatro seja uma festa, onde se vê o imaginário realizado.

Esta é uma peça para nos fazer pensar, rir, chorar?...

Espero que tudo isso. É um espectáculo visual, musical… As palavras são cinzentas, mas permitem reflectir sobre o renascer, o recomeçar após perder tudo, as perturbações internas de cada um… Como é que vamos descobrindo, avançando e recomeçando, após qualquer coisa que nos acontece, nos abala, nos faz tremer…

Quantas pessoas estão envolvidas neste processo?
Muita gente: os participantes nos vários workshops, os actores, a produção, a cenografia, a luz, o som… Ao longo deste trabalho, como não podia estar cá sempre, tive uma colaboração muito íntima, rica e fundamental, de um amigo com quem tenho uma cumplicidade artística de há muitos anos, o Jorge Parente, que nos ajudou a gerir todo este conjunto de pessoas. Estão envolvidas entre 30 e 40 pessoas, das quais temos oito actores em cima do palco, e teremos entre quatro e seis músicos.

Este é um projecto ambicioso, diferente do que se tem feito por cá… Quais são as suas expectativas em relação às reacções?
É de facto muito ambicioso este projecto, onde participam profissionais consagrados de algumas das várias áreas envolvidas. As expectativas são grandes, e eu próprio estou surpreso em relação à forma como conseguimos por esta complexa máquina a funcionar. Em relação à estreia, é uma incerteza, todo o processo é uma descoberta que se faz dia-a-dia. Vai crescendo e eu já não o controlo, já se controla por si, e tem a sua coerência. Mas começo a ficar muito contente com o que vejo.

Pelo seu percurso no Teatro, o Tiago é a pessoa certa para fazer um diagnóstico da actividade cultural, e teatral, no Faial… Que evolução tem visto?
O facto do Teatro Faialense estar em actividade permitiu uma evolução, porque é uma “casa”; uma referência que tem uma actividade regular, não só de Teatro mas de várias actividades culturais. Estou surpreendido e acho que se vive na ilha um investimento na cultura fundamental, e isso agrada-me. No Teatro, sei que a Direcção Regional da Cultura tem investido em formação nos grupos amadores. Quero salientar dois grupos que conheço bem, o Teatro de Giz e o Carrossel, que têm linguagens diferenciadas, mas têm feito um excelente trabalho, principalmente tendo em conta o facto de serem amadores. Ás vezes agrada-me mais trabalhar com os amadores, as pessoas que “amam” o teatro; é muito tocante.
O Teatro de Giz tem criado uma dinâmica que os coloca num circuito com efeito bola de neve, em que eles têm crescido. Trabalhei com eles há 10 anos e é notória a evolução. A Ilha de Arlequim teve aqui um papel importante, por tudo o que possibilitou.
Fico muito contente de ver esta evolução, mas é claro que achamos sempre pouco. O importante é que cada vez mais pessoas tenham acesso ao Teatro, e gosto em vir ver as peças.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Paulo Oliveira, responsável pelas Mesas Sectoriais de Comércio e Turismo na Câmara do Comércio e Indústria da Horta

"Há que encontrar formas de melhorar a oferta"

No assinalar do 115.º aniversário da CCIH fomos falar com Paulo Oliveira, presidente da Mesa Sectorial do Turismo da Câmara do Comércio e Indústria da Horta, e agora também responsável pelo Comércio, cuja Mesa Sectorial neste momento não existe. Dificuldades e desafios para ambos os sectores foram os temas abordados, num check-up a estas duas áreas estruturantes da economia faialense.

COMÉRCIO

“OS COMERCIANTES FAIALENSES TÊM DE ACTUALIZAR-SE O MAIS POSSÍVEL”

Quais as vantagens para os comerciantes locais de se congregarem na CCIH?
Paulo Oliveira - As vantagens são muitas. Se tiram partido delas é que já tenho dúvidas, porque lamentavelmente não os tenho visto nas Assembleias-Gerais e reuniões. Têm aparecido alguns, presença já de referência, mas grande parte não. Ou não têm tempo, ou as reuniões são a horas inconvenientes, ou estão desmotivados… Desconheço as razões, mas o que sei é que neste momento é muito difícil a mobilização. Aliás, sempre foi.

Acha que há falta de comunicação entre comerciantes e CCIH?
PO - Falta de comunicação não será, até porque é regular a CCIH enviar faxes, mensagens de telemóvel, etc., a informar dos eventos que acontecem. No entanto não há receptividade. Por exemplo recentemente houve um Seminário sobre Qualidade na Hotelaria e a sala estava cheia... de alunos da Escola Profissional. Contavam-se pelos dedos os empresários da restauração e hotelaria. São eventos que custam muito à CCIH, não só em termos financeiros, mas até no esforço de sensibilizar as entidades regionais para não concentrarem recursos apenas em S. Miguel e Terceira e virem à Horta. Às vezes esse esforço é inglório.
Os empresários não aparecem nos espaços de discussão e depois queixam-se das nossas sensibilidades não estarem reflectidas nas linhas de orientação regionais. Obviamente que, se não nos chegarmos à frente, elas não podem aparecer, e gera-se um círculo vicioso: as pessoas não contribuem porque não se sentem motivadas, mas também não se motivarão se não intervierem de modo a verem expostas as suas ideias. A CCIH é uma Associação, logo é imprescindível a colaboração dos sócios.

Quais são as dificuldades do comércio tradicional no Faial?
PO - São muitas, e resultam de culpas dos vários intervenientes, não só empresários mas também clientes.
Penso que há falta de sensibilidade para consumir o que é nosso. Enquanto que a nível nacional e europeu existem campanhas para se comprar o que é nosso, a nível regional não há esse culto. Os chamados “clientes de topo”, que são os que ganham mais, mas também viajam mais, preferem comprar fora.
Da parte dos empresários houve um esforço de actualização, com o URBCOM, em termos de obras nas lojas para torná-las mais atractivas. Em termos de produto, penso que há alguma falta de formação, nas áreas do atendimento (por exemplo é cada vez mais importante que os funcionários falem inglês), do vitrinismo, e mesmo de postura: o funcionário que está à porta à espera do cliente sem nada que fazer dá mau ambiente à loja.
Por outro lado, existe desconhecimento do cliente em relação a vários factores. Quando se diz que as coisas cá são mais caras, se virmos os chamados artigos de marca (pronto-a-vestir, calçado, vinhos, carros), esses são tabelados a nível nacional. Admito que no Faial existam menos possibilidades de escolha, como é natural… Mas os preços são de referência.
Também é necessário que se criem condições que atraiam clientes às zonas onde está instalado o comércio tradicional. Por exemplo neste momento em Ponta Delgada a iluminação de Natal já funciona, com investimentos muito grandes. Cá, até à data em que falamos, nem montada está, e é sempre a mesma.
Outro problema é a ausência de Parques de Estacionamento. O Plano de Urbanização prevê quatro ou cinco, mas o mais central é o que eventualmente se situará no actual Quartel de Bombeiros, caso este vague. Não existe nenhum na Rua Direita. Já dei algumas sugestões à autarquia de como se poderiam criar opções de estacionamento na rua principal. No Largo Duque D’Ávila, por exemplo, pode fazer-se um parque de um ou dois pisos, ideia que penso ser de um anterior arquitecto da CMH. Seria para 40 carros, não é muito, mas são menos esses que ficam sem lugar para estacionar. Outras soluções seriam em frente à residencial de São Francisco, por detrás do Mercado… Mesmo ao longo da Avenida Marginal há espaços que podem ser aproveitados. Depois, há que utilizar o mini-bus direccionado para os parques de estacionamento e não como urbana citadina para quem não tem carro. Quando o mini-bus foi implementado, era para servir os parques de estacionamento que seriam feitos nos extremos da cidade. Os parques nunca avançaram e continuamos com o mini-bus a funcionar como urbana.

Podemos concluir que a evolução do comércio tradicional requer iniciativa não só dos empresários mas também da autarquia e dos clientes?
PO - Sim. Tenho apelado ao diálogo entre CMH e CCIH, e aguardo com expectativa que as obras do Saneamento Básico, que vão virar a cidade do avesso, não sejam apenas abrir as estradas, colocar as tubagens e voltar a tapar. Há que aproveitar essa grande obra, que trará muito incómodo aos faialenses durante a execução, para trazer o máximo de benefícios à cidade: fechar ruas ao trânsito, alargar passeios, criar condições para a exploração de esplanadas (aqui também a nível financeiro, pois as taxas são muito caras) … Há muita coisa a ser feita, continuamos a aguardar mas este compasso de espera não beneficia ninguém.

Há falta de diálogo entre a CMH e a CCIH?
PO - Como ficou recentemente provado, há.

Está a falar da questão da Derrama?
PO -
Exactamente. Acho que é mais uma teimosia do que propriamente um esforço para contribuir. Há quem goste de falar em crise, há quem não goste, mas penso que toda a gente está empenhada em ultrapassar esta crise, ou dificuldade, ou o que lhe quiserem chamar, da melhor forma. E não custa nada dar sinais de boa vontade. Se a CMH está a dar um sinal de boa vontade, poderia fazê-lo de melhor forma.

O Faial, à semelhança do país, tem-se deparado com um fenómeno cada vez maior, que são as lojas orientais. Qual é o seu impacto?
PO - O impacto é grande. Defendo que todos têm os mesmos direitos, mas também as mesmas obrigações, e o que eu não vejo é as lojas orientais a cumprirem essas obrigações. São os horários de porta aberta que não são cumpridos, as regalias sociais, as próprias inspecções fiscais e económicas que se coíbem de exercer a sua acção como no comércio tradicional. As lojas devem ser encaradas da mesma forma, e pertencer a um ciclo de inspecções regulares, igual para todos.

Que desafios se põem aos empresários locais da área do comércio?
PO - Primeiro, têm de deixar de considerar-se entre eles concorrência, e passar a ser parceiros de negócios.
Têm de estar mais presentes na CCIH, e transmitir-lhe as suas preocupações.
Têm de se actualizar o melhor possível: análise diária dos caixas, ver onde se vende mais e menos, mudar mais vezes as montras... Tudo isso é importante para que o nosso comércio não fique parado no tempo. Penso que tem havido esforço de actualização, mas persistem alguns maus hábitos.
Temos de ter sempre em conta, no entanto, o tamanho do nosso mercado. Não podemos ter a mesma diversidade que em Lisboa. Há que ter, por exemplo, a sensibilização de não adquirir grandes quantidades da mesma peça de roupa.
Para evoluir o empresário precisa também da colaboração dos seus funcionários, e por vezes é difícil. Muitas vezes queremos manter os estabelecimentos abertos até mais tarde, ou fazer com que os funcionários assistam a formações, mas eles não têm disponibilidade. Há aqui uma inércia que não é só do empresário, mas também uma questão de mentalidade, e de identificação e solidariedade com a equipa. Tem de haver uma quebra progressiva de barreiras, de alguns empresários mas também de alguns funcionários e alguns clientes. Só assim conseguimos beneficiar a oferta que temos.
O empresário que decidiu apostar na ilha e não lá fora precisa de solidificar essa aposta todos os dias, ter o apoio dos funcionários, o carinho dos clientes, com a sua preferência…
Precisamos de uma postura de defesa do que é nosso; um certo clubismo, como aquilo que se vê no futebol, na política, que deveria estender-se à área comercial.
Temos de nos lembrar que o dinheiro que deixamos na ilha fica cá, e contribui para o desenvolvimento da nossa economia, desmultiplica-se, ou seja, todos beneficiamos.

Estamos a aproximar-nos do Natal, a época do ano mais importante para os comerciantes. A CCIH já tem uma estratégia para dinamizar o comércio tradicional este ano?
PO - Sim, e será divulgada na altura certa. O figurino será de um modo geral o mesmo. Tentámos alguma inovação, maior criatividade exterior. Queremos engalanar mais a rua. Vamos ver se conseguimos pôr as ideias de pé.

Os empresários faialenses receiam ter menos lucro este Natal, devido à crise?
PO - Penso que vamos ter menos vendas. A descida será maior para uns e menor para outros, e aí tudo depende um pouco da tal postura. O comerciante tem de fazer uma análise diária do que se passa na sua loja para saber o que pode melhorar. Essa análise não pode esperar meses. Se o Natal correr mal, acho que há lojas que não conseguirão sobreviver. O panorama não é famoso e todos se deviam unir para ultrapassar a situação.




TURISMO
“AÇORES NÃO TÊM POLÍTICA DE TRANSPORTES MARÍTIMOS CREDÍVEL”


Mudando o rumo da nossa conversa, esta crise afecta também o Turismo no Faial?
PO -
No Faial o Turismo está num patamar aceitável. Precisamos de mais hotéis, mais voos, mais turistas, mas nos últimos anos os números mantiveram-se, o que não acontece na Região, que neste momento está a perder 36 mil dormidas. À excepção de S. Miguel e Sta Maria (e também o Pico, mas aí há a condicionante das unidades hoteleiras estarem em obras), as dormidas nos Açores até têm crescido. Em S. Miguel as dormidas descem mas há mais turistas, o que é um contra censo: o que acontece é que há mais turistas a ir a S. Miguel mas ficam lá menos dias. Acho que os Açores caminham no trilho certo, que é o Turismo da Natureza, mas em S. Miguel o betão cresce, e não podemos promover verde e vender betão.
Neste momento está-se a desenvolver um plano de Marketing para o Turismo nos Açores, que a CCIH tem acompanhado. Penso que será uma boa forma de promover a Região.

O que falta ao Faial para dinamizar mais o seu Turismo?
PO -
Principalmente a organização do produto. Os empresários não estão organizados entre si: um vende o quarto, outro a refeição, outro o carro, mas não pacotes conjuntos. A divulgação do destino Horta parece ser quase proibida a nível regional. Fala-se sempre nos Açores, porque somos pequenos vamos promover o arquipélago num todo, mas há espaço para o destino Horta: estamos a quatro horas da Europa num destino seguro, sem terrorismo. Por outro lado, continuamos na Europa, com os benefícios que daí resultam. Um alemão cá sente-se em casa.
A organização do produto passa também por aumentar o tempo de estada do turista no Faial. Sobrevivemos do turista continental, mas este faz um “circuito açoriano estafante” (poucos dias em cada ilha), onde acaba por passar o tempo a viajar. Temos também de acabar com a ideia da “volta à ilha”. O turista chega ao Faial, dá a volta à ilha e pode ir-se embora. O Centro de Interpretação do Vulcão foi um pontapé de saída para acabar com isso: não se consegue dar a volta à ilha e visitar o Centro dentro dessa volta. Há que criar circuitos paralelos. Os taxistas têm de ser sensibilizados para, em vez de vender uma só “volta à ilha”, vender vários roteiros: a volta da cidade, com os miradouros, a Caldeira com a visita à fabrica de lacticínios e a uma exploração agrícola, o Centro de Interpretação com o Varadouro e a escola de artesanato… O turista pode ir ver as baleias, conciliando isso com a visita ao museu de Scrimshaw e um passeio na Marina e está um dia feito. Assim em vez de ficar dois dias fica uma semana.
Uma grande potencialidade a aproveitar é ligar o Turismo à pesca e à agricultura: a possibilidade do turista ir pescar, ou de se instalar numa quinta rural com galinhas, vacas, ou onde pode vindimar… Com isto valorizamos também os nossos produtos de qualidade do sector primário, que são únicos e nos valorizam.

O preço das passagens para os Açores é uma das grandes dificuldades para os empresários do turismo?
PO - O nosso problema são as acessibilidades. Neste momento o mercado é dominado pelo code-share SATA/TAP mas podíamos evoluir para um mercado semi-aberto, com algumas low-costs ou alguns voos charter como existe em S. Miguel e Terceira. Para isso é importantíssima a ampliação da pista do Aeroporto.
As acessibilidades passam não só pela tarifa, mas também pelos horários. Não nos serve ter um voo que sai de Lisboa as 08h00, porque não consegue fazer ligação com o resto da Europa. Interessa-nos ter um voo mais tarde, que possa trazer turistas que tenham chegado a Lisboa de manhã. O mesmo para a partida da Horta: é importante poder apanhar o voo para o seu país ainda no mesmo dia, pois o turista rejeita destinos onde tem de pernoitar na ida ou no regresso. No Inverno IATA, apenas com um voo diário, só nos interessa um horário central, ao meio-dia. No Verão, com dois voos diários, tal dificuldade não existe.
Temos também a questão dos transportes marítimos inter-ilhas. A Mesa do Turismo defende cinco ligações diárias fixas ao Pico ao longo de todo o ano (7h; 10h; 13h; 15h e 17h) e no Verão mais uma às 20h, e em Julho e Agosto outra às 00h, para que as pessoas possam ir à outra ilha jantar, divertir-se, e regressar à ilha de alojamento. Queremos também uma ligação diária a S. Jorge, que no Verão passasse a duas, reforçada com uma ao meio dia S.Roque/Velas.
A nível regional é o descalabro. Temos barcos novos que não sabemos quando começarão a operar, e a definição dos horários prejudica-nos, porque os turistas decidem onde vão passar as Férias de Verão em Dezembro, e nessa altura querem ter na mão, o bilhete de avião, o alojamento, os bilhetes de barco… Não conseguimos ter isso definido, porque os horários dos transportes marítimos são estabelecidos em cima da época. Este ano a Transmaçor teve cinco horários diferentes no Verão. Isto não funciona, tem de haver carreiras estruturantes, mantidas ao longo do ano.
Somos uma Região insular sem política de transportes marítimos credível… Estamos a aproveitar mal a nossa maior potencialidade: o Mar.
Temos também de aproveitar ao máximo a componente ambiental. Temos já o Centro de Interpretação e um bom Jardim Botânico, mas temos também um aquário Virtual que já devia estar pronto há um ano, agora é que se vão fazer os acessos à Fábrica da Baleia, o Morro de Castelo Branco está esquecido, a Caldeira não tem visto investimento… Temos fundamentalmente ecologia e ambiente para vender, e como tal, precisamos que rapidamente se façam mais investimentos estruturantes na área. O Campo de Golfe é um exemplo.

Preocupa-o esta inércia relativamente à execução do Campo de Golfe?
PO - Sim é uma obra importante para aumentar a oferta e combater a sazonalidade, que é o nosso calcanhar de Aquiles. As unidades faialenses estão esgotadas durante 6 semana em Julho e Agosto, mas no resto do tempo não é assim.

Quer no Comércio, quer no Turismo, o que recomenda?
PO – Temos, todos, que contribuir para aumentar e diversificar a oferta.
Comparando, S. Miguel tem o Verão e o Santo Cristo em Maio. A Terceira tem o Verão e as Sanjoaninas em Junho. E o Faial, tem o Verão e a Semana do Mar em Agosto. Enquanto as outras ilhas têm 3 a 4 meses de ocupação plena, a Horta tem escassas 6 semanas.
Há que encontrar formas de melhorar a oferta, e para isso tem de haver diálogo no Triângulo, mas, e acima de tudo, no Faial, com empresários, trabalhadores, clientes, políticos... Ninguém poderá ficar marginalizado deste processo, se quisermos - e penso que todos queremos - um futuro melhor para todo.
A tarefa que nos espera é gigantesca, mas uma coisa é certa: só beneficiará quem se esforçar!