sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Faial Filmes Fest 2009

Fazer Cinema Sem Palavras


Na noite da passada quarta-feira o Teatro Faialense recebeu o resultado do projecto “Sem Palavras”, um workshop de música e imagem ministrado por Fausto André e Nuno Costa, integrado do Faial Filmes Fest.

Na sessão, foi mostrado o filme resultante de mais de duas semanas de trabalho, enquanto os músicos tocavam ao vivo a banda sonora.

Estivemos à conversa com os dois formadores antes da exibição do resultado final. Estes, apesar de um pouco ansiosos, mostraram-se convictos da qualidade do resultado final do workshop e, principalmente, satisfeitos com o balanço positivo do projecto.

Segundo nos explicou Fausto André, formador responsável pela componente da imagem, na edição de 2008 do Faial Filmes Fest já tinha sido levado a cabo um projecto semelhante: “fui responsável por uma oficina de planos de sequência, em que fizemos 11 pequenos filmes. Entretanto o Nuno ia dar um workshop de bandas sonoras e eu lembrei-me de lhe fazer um desafio: fazer a banda sonora para um ou dois dos filmes que tinham resultado da oficina. O Nuno concordou, e o resultado foi bastante bom”.

Em 2009 surgiu então a ideia de arrancar com uma oficina diferente, que fosse simultaneamente de imagem e de música. Assim, 10 formandos na componente de imagem e cinco na componente musical trabalharam em conjunto durante mais de duas semanas, para apresentar um filme final no âmbito do Faial Filmes Fest. Segundo Fausto o objectivo era que a formação “proporcionasse um diálogo mais próximo entre os músicos e os responsáveis pela imagem”.

O ponto de partida foi o filme Baraka, realizado em 1992 por Ron Fricke, e que se apresenta sem diálogos, mostrando uma série de imagens de vários continentes, com o objectivo de mostrar um mundo para além das palavras. Nuno Costa foi já, de resto, responsável por remusicar este projecto cinematográfico, cuja essência ia ao encontro dos objectivos da formação. Assim, depois de numa primeira sessão mostrar Baraka aos seus formandos, e dar-lhes algumas orientações teóricas, o grupo partiu para a filmagem, ao mesmo tempo que os músicos compunham a banda sonora deste filme, que pretendeu apresentar uma visão daquilo que é ser faialense, sem recorrer, claro está, às palavras.

Com uma vasta experiência musical, essencialmente na área do jazz, Nuno Costa explicou-nos o trabalho dos músicos neste projecto: “Tentamos passar musicalmente aquilo que a imagem nos dá, não no sentido de traduzir, mas de completar. Este ano, dado que é um concerto ao vivo, é mais difícil. Não nos podemos esquecer que os músicos estarão a interpretar ao vivo; não se pode voltar atrás, não pode haver enganos”, refere.

Para Fausto, o essencial na componente da imagem era conseguir manter a individualidade de cada um dos formandos, adaptando-a no de modo a criar um filme coerente. A noção de grupo era muito importante para o formador, que se mostrou satisfeito com o espírito de equipa criado, ainda que a qualidade do resultado final implicasse um trabalho árduo e intensivo: “houve um dia em que estivemos 12 horas seguidas na montagem”, lembra, reconhecendo que este foi um projecto bastante ambicioso.

A algumas horas da apresentação do trabalho, Nuno Costa admitia estar um pouco nervoso, até porque a componente musical iria ser apresentada ao vivo, ao contrário das imagens, onde todo o trabalho já estava feito, como reconheceu Fausto: “os músicos vão ter de fazer um concerto. Vão improvisar mas tendo sempre em conta o filme”, lembra. O facto de haver uma componente de improvisação é, para os formadores, uma mais-valia, no sentido em que, caso o filme seja apresentado mais vezes, será sempre diferente.


Paulo Rocha e Dias de Melo marcam o arranque do Festival

O Faial Filmes Fest 2009 arrancou na passada segunda-feira, com uma referência ao escritor Dias de Melo, figura de culto da literatura açoriana, e também ao realizador Paulo Rocha, marco incontornável na história do cinema português.

Foi exibido no Teatro Faialense o documentário Quatro Paredes e o Mundo, do realizador Marc Weymuller, sobre o poeta picoense, que já tinha sido homenageado na edição de 2008 do Festival.

À semelhança de 2008, o Cineclube da Horta decidiu homenagear um realizador português de referência pela sua carreira. Desta feita, a escolha recaiu sobre Paulo Rocha, cuja longa-metragem Os Verdes Anos marca o início do chamado “cinema novo” em Portugal. O filme, que data de 1963, foi exibido com a presença do realizador, e mereceu sonoros aplausos no final. Paulo Rocha esteve ainda à conversa com o público, recordando esta sua obra-prima.

No primeiro dia do Festival foi ainda exibido o documentário Diário de uma Ilha que se tornou Cinema, da autoria de Fausto André, que lembra a edição de 2008 do Faial Filmes Fest.


Ausência de Mário Barroso na exibição de Um Amor de Perdição

O destaque da noite de terça-feira foi para a exibição do filme Um Amor de Perdição, realizado por Mário Barroso, e que constitui o candidato português ao Óscar para melhor filme estrangeiro. A sessão ficou marcada pela ausência do realizador, cuja presença estava prevista mas, por motivos pessoais, não pôde deslocar-se ao Faial para a exibição do filme.

Na quarta-feira, para além do projecto Sem Palavras, o Teatro Faialense acolheu a exibição do filme Veneno Cura, de Raquel Freire, realizadora que integra o júri do Festival.

Ontem o Centro Botânico do Faial recebeu a ante-estreia do filme Gente das Fajãs, de António Goulart. A noite de ontem ficou ainda marcada pelo arranque da componente competitiva do Festival. Hoje e amanhã decorrem as restantes sessões de competição, e no Domingo, último dia do Festival, tem lugar o anúncio dos vencedores.

O Faial Filmes Fest 2009 encerra com música, com um concerto do The Legendary Tiger Man.


FOTOS: CARLOS PINHEIRO

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