sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009


Dia dos Namorados

Rosas africanas dão calor ao São Valentim faialense

O dia 14 de Fevereiro é, porventura, o mais romântico do ano. O Dia dos Namorados, ou de São Valentim, é, dos 365 dias do ano, aquele que é especialmente dedicado à celebração do Amor, um dos mais nobres sentimentos. E uma das melhores formas de evocar o Amor neste dia é oferecendo flores – com destaque para as rosas – à pessoa amada.

Assim sendo, quem não tem mãos a medir por esta altura são os floristas. Tribuna das Ilhas esteve à conversa com Rosário Rodrigues, proprietária da Rosário Flores, que confirmou à nossa reportagem a importância deste dia: “costumo dizer que o Dia dos Namorados é o meu Natal”, revela.

Por mais nobre que seja o sentimento que compele a oferecer um belo ramo de rosas à pessoa amada neste dia, a tão famigerada crise não pode ser esquecida. “Este ano estamos com reticências, porque com a crise e tudo o que está a acontecer as pessoas vêm a gastar cada vez menos dinheiro. É normal”, diz Rosário, acrescentando no entanto que, nestes dias, o Amor fala mais alto, principalmente ao ouvido “deles”. É que, segundo a florista, no Dia dos Namorados não há “forretice” que resista, e namorados e maridos não olham a preços, e só querem levar algo bonito para casa.

Apesar dos homens serem os grandes clientes deste dia no que toca a flores, Rosário revela que “as mulheres também já vão tendo o costume de comprar”. “Compram muito menos que os homens”, diz, acrescentando que, no entanto, já se nota alguma evolução, tanto da parte delas, como deles, que recebem flores com cada vez mais à vontade. “Já trabalho há mais de 15 anos neste ramo, e lembro-me que inicialmente as mulheres raramente compravam, e quando compravam optavam por um cravo, porque era uma flor “masculina”, mas agora não”, revela.

É do conhecimento geral que a rainha das flores é a rosa. Neste dia, o seu reinado é ainda mais proeminente, e é a flor de eleição da grande maioria das mulheres, fazendo com que todas as outras sejam preteridas, e fiquem nos vasos das floristas, à espera da oportunidade de alegrar o Dia dos Namorados a uma ou outra mulher com gostos mais peculiares.

Rosário confirma esta tendência, salientando que há “algumas esposas ou namoradas que têm flores de eleição, como tulipas ou orquídeas, e eles sabem. Há também aquelas que não gostam de rosas vermelhas”, diz a florista, que confessa fazer parte deste último grupo, preferindo as rosas cor de fogo.

Quanto à composição do bouquet, Rosário salienta que muitas das mulheres preferem algo diferente do que tradicionalmente se faz no Dia dos Namorados. “Mas colocamos sempre um coração, um laço especial… Enfim, qualquer coisa que faça referência ao amor, cujo coração é o símbolo maior”, diz.

A grande maioria da clientela que a Rosário Flores recebe neste dia é, como já referimos, do sexo masculino e, como tal, reveste-se de características especiais. Instada a traçar o perfil destes clientes, Rosário não hesita: “em geral, chegam aqui sem saber o que querem. Não gostam de esperar. Gostam de chegar, ver os bouquets já feitos, já com preços marcados, escolher, pagar e ir embora”, diz.

Em parte devido a este lado menos paciente de maridos e namorados, Rosário sentiu necessidade de mudar os hábitos de trabalho neste dia: “tento começar a trabalhar antecipadamente para ter bouquets já feitos”, revela. “Não era hábito fazer-se isto no Faial quando comecei a trabalhar, mas notei essa necessidade”.

A originalidade e a inovação são qualidades que Rosário não esquece neste dia: “todos os anos temos um produto surpresa”, diz. “Este ano, vamos ter a Caixa do Amor e o Bouquet para Divórcio”, revela. Instada a pronunciar-se sobre como surgiu esta última ideia, no mínimo muito original, Rosário explica que “quando a vida não foi muito boa a dois, a separação ocorreu, e os dois vêem o que de bom daí adveio, e se sentem bem, é isso que este bouquet significa. É uma ideia de uma colega do continente mas que achei interessante”.

Apesar das flores serem o presente mais emblemático deste dia, existem outros artigos que têm cada vez mais procura: “toda a gente gosta de oferecer peluches”, revela, acrescentando que “agora começamos a ter coisas mais utilitárias; que servem no dia-a-dia: canecas, porta-chaves, copos de champanhe…”.

No frio e chuvoso mês de Fevereiro, as rosas, apesar de serem as mais desejadas em todo o mundo para lembrar o Dia dos Namorados, fazem-se rogadas, valendo-se talvez dos caprichos próprios da realeza, e não crescem em qualquer lugar: apenas dão um ar da sua graça nos países onde está calor, como o Brasil ou o Equador, ou então são produzidas em estufas, com custos elevados, o que acontece essencialmente na Holanda, Meca da floricultura mundial.

Para garantir que as mulheres faialenses sejam agraciadas com uma rosa no Dia de São Valentim, Rosário tem de planear uma estratégia antecipadamente: “A encomenda das rosas faz-se com mês e meio de antecedência”, revela. As rosas da Rosário Flores são importadas do Quénia, e fazem uma grande viagem até chegarem ao destino final: “O importador compra-as na safra, ainda no terreno. São adquiridas à vara e por cabeça. Quanto mais alta é a vara e maior é a cabeça mais cara é a rosa. Depois um avião traz as flores para a Europa, onde são distribuídas, em camiões de frio”, explica Rosário. É nesta altura que começam os percalços: “se caírem nevões, ou houver uma greve de camionistas, as rosas ficam retidas, e começam as complicações”, diz a florista. Ao chegar a Lisboa, as rosas ficam num armazenista, que faz a distribuição para todo o país. Neste ponto do percurso, a viagem já vai longa, mas está longe de acabar: “Para chegar às ilhas, há outro problema: se não passa avião”, revela Rosário. O principal custo da insularidade assume, nestes casos, contornos traiçoeiros, e basta um período mais longo de condições climatéricas adversas para arruinar o negócio dos floristas açorianos neste dia. “Temos de escolher bem os voos para que as flores possam chegar aqui mais rápido e em melhores condições”, diz Rosário, salientando o facto de, no Faial, “termos poucos voos por semana”. A questão das acessibilidades torna-se ainda mais importante se tivermos em conta que as flores – principalmente as rosas - são um produto facilmente perecível. As rosas africanas que vêm emprestar calor ao São Valentim no Faial enfrentam uma viagem de cerca de duas semanas, estimando-se que durem em média outra semana após serem vendidas. A florista lembra com apreensão algumas experiências anteriores, em que as flores chegaram ao Faial mesmo em cima do dia 14 de Fevereiro, o que lhe causou trabalhos redobrados. Casa roubada, trancas na porta, como diz o ditado, e Rosário faz questão de se precaver, e planear a viagem das suas rosas ao mais ínfimo pormenor, para que no Dia dos Namorados também as mulheres faialenses possam apreciar a sensação especial que é receber uma flor.

Rosas como símbolo de Amor… e de Solidariedade

As rosas quenianas que vêm dar cor ao Dia dos Namorados no Faial têm, para além da sua óbvia carga simbólica associada ao amor, um valor de solidariedade.

A Red Lands Roses, parceira comercial da Tutiflor, empresa que fornece a Rosário Flores, leva a cabo uma campanha segundo a qual, por cada 20 rosas vendidas, auxilia meninas das tribos do Quénia, para que os seus estudos até aos 12 anos sejam garantidos. Nestas comunidades quenianas, como é o caso das tribos Teso e Massai, é comum as raparigas abandonarem precocemente a escola para casar, de modo a que as suas famílias recebam o dote associado ao casamento.

Assim, estas rosas, para além de cumprirem a sua função habitual, estão também a suportar uma causa: a educação destas crianças quenianas, o que, para Rosário, significa uma alegria extra em cada flor vendida.

A primeira iniciativa de apoio a esta causa decorreu no passado Dia da Mãe. A Red Land Roses adquiriu cerca de 1200 pulseiras de misangas, feitas precisamente pelas mães destas crianças quenianas, que acompanharam os molhos de 20 rosas vendidos. A receita da venda das missangas permitiu que 12 meninas frequentassem a escola secundária durante um ano.

O que oferecemos quando oferecemos rosas?

Considerada a rainha das flores, pensa-se que a rosa tenha sido cultivada pela primeira vez nos jardins asiáticos, há mais de cinco mil anos. Estima-se que existam cerca de 150 espécies diferentes de rosas.

As rosas têm o condão de serem particularmente inspirativas. Que o digam escritores, poetas, compositores e até cineastas que já encontraram nesta flor alguma fonte de inspiração. Na literatura, Shakespeare refere-se à rainha das flores em Romeu e Julieta, quando diz que uma rosa, ainda que tivesse outro nome, teria sempre o mesmo doce aroma. Na música, temos como exemplo o êxito intemporal dos Bon Jovi, Bed of Roses. E no cinema, as referências às rosas são inúmeras. Quem não se lembra da rosa mágica do clássico da Disney A Bela e o Monstro?

Esta flor tem inerente uma carga de mistério. Na Roma antiga, uma rosa brava na porta de um quarto significava que ali se discutiam assuntos confidenciais.

A rosa tem feito as delícias dos apreciadores de flores, sem nunca passar de moda. E oferecer uma rosa, é mais do que o simples acto de oferecer, pois as rosas têm um significado diferente consoante a sua cor: as rosas vermelhas, por exemplo, são símbolo de desejo e paixão. Já as cor-de-rosa significam carinho, doçura ou gratidão. As rosas amarelas são sinal de amizade, e as brancas de paz. As rosas champanhe revelam admiração e respeito. Em conclusão, as várias cores das rosas representam o Amor, nas várias nuances que este complexo sentimento pode apresentar.

No entanto, quem quiser enveredar por um caminho mais original, e arriscar outra flor, saiba que, por exemplo, as orquídeas transmitem a ideia de perfeição e de beleza feminina. O cravo representa o amor puro e a liberdade e a gerbera, a simplicidade e a inocência.

Significados ocultos à parte, o que interessa mesmo no Dia dos Namorados é oferecer uma flor à pessoa que se ama.

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