sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Autárquicas 2009

Maria José Silva, candidata do Bloco de Esquerda à presidência da Câmara Municipal da Horta


À Horta faz falta um “planeamento a pensar no futuro”


Numa altura em que o partido tem assistido a um crescimento a nível nacional, o Bloco de Esquerda apresenta-se na corrida à Câmara Municipal da Horta com a única candidata do sexo feminino neste embate eleitoral. Maria José Silva tem 50 anos e é funcionária pública, e é a aposta dos bloquistas faialenses para as próximas autárquicas.

Em entrevista, a candidata falou das suas motivações para aceitar este desafio, e de alguns dos aspectos em que entende ser urgente intervir na ilha do Faial. Lutar pelos grupos minoritários, criando condições na cidade para uma boa mobilidade das pessoas com incapacidades físicas é um dos objectivos, bem como zelar pelo património arquitectónico da Horta. Maria José Silva entende ainda que é vital que as grandes obras no Faial tenham um planeamento eficaz não apenas no momento presente mas a longo prazo. No entanto, a candidata diz não querer deixar promessas. Auscultar os desejos e necessidades dos faialenses é o seu principal objectivo de campanha, e pretende com isso ajudar a combater a desilusão dos eleitores em relação à política, um dos factores que considera mais influentes no aumento dos níveis de abstenção.


Por que razão se decidiu candidatar à Câmara Municipal da Horta pelo Bloco de Esquerda?

Enquanto cidadã, nasci e vivi sempre na cidade da Horta. Como tal, não posso estar indiferente a uma série de problemas que durante anos não tiveram resposta nesta cidade. Como tenho uma grande admiração pelo senhor Mário Moniz, decidi aceitar este desafio e tentar fazer o meu melhor em prol do desenvolvimento da ilha do Faial.


É a única candidata feminina. Isso faz desta candidatura um desafio acrescido?

Acho que sim. Penso que antes nenhuma mulher se candidatou à Câmara Municipal da Horta. Possivelmente as pessoas vão ficar um pouco apreensivas, até admiradas, mas em outras cidades do país existem mulheres nas Câmaras Municipais, por isso não vejo nada de extraordinário nesse facto. É tudo uma questão de hábito, e de mentalização, e não tenho nada a temer.


Por que razão se identifica com o Bloco de Esquerda, e como vê o crescimento do partido, não só a nível nacional, mas também a nível local?

Principalmente porque acho que é uma força política que tem lutado em prol dos menos favorecidos.

Em relação ao crescimento do partido, é um facto que se tem verificado no país, e até a nível local, embora não com tanta intensidade. O BE/Faial apresenta candidaturas a três Assembleias de Freguesia, o que mostra essa crescimento. Essa realidade dá-me optimismo para enfrentar esta luta.


Para si, quais são as principais áreas em que é necessário intervir no Faial?

A seu tempo, as nossas propostas para o Faial serão divulgadas, no entanto posso referir algumas das muitas áreas que, de facto, requerem intervenção. Um exemplo é a existência de pouco apoio a grupos minoritários. Posso fazer referência às inúmeras barreiras arquitectónicas que temos no Faial, o que impossibilita as pessoas com deficiência de terem uma mobilidade adequada. Têm dificuldades, por exemplo, em entrar em edifícios públicos. A remoção dessas barreiras e o rebaixamento dos passeios, são pequenos pormenores, mas muito importantes. Sei que algumas dessas pessoas gostam de pesca, e nos locais apropriados para tal não há condições de acesso. São intervenções de reduzidos custos monetários mas que poderiam ser importantes.

O início do saneamento básico, que se prevê para breve, seria a altura ideal para construir ciclo-vias. Se criarmos ciclo-vias, elas servirão não apenas para os ciclistas mas também para pessoas com deficiência poderem circular com mais segurança.

Na Horta ainda temos uma mentalidade algo antiquada em relação à bicicleta como transporte, mas em países como a Holanda, a Itália ou a Bélgica as pessoas utilizam-nas, inclusive os executivos deixam os carros em parques de estacionamento e depois circulam na cidade de bicicleta. Para a mudança de mentalidades nos meios pequenos contribui a imitação, por isso o exemplo deveria vir das pessoas que estão à frente dos organismos públicos. Por exemplo, acho desnecessário que essas individualidades tenham viaturas e motoristas privados, pois todos esses custos saem de orçamentos públicos, e na situação em que se encontra o nosso país isso é muito complicado, pois quando se pedem sacrifícios tem de ser para todos.

Na nossa cidade temos um grande problema com o planeamento: não se planeiam as coisas a longo prazo; a pensar no futuro,e não se estabelecem prioridades. As pessoas que tomam decisões importantes em relação ao desenvolvimento da ilha pensam apenas no presente, e não têm em conta a evolução natural das coisas. Veja-se o caso da Marina, por exemplo.

Preocupa-me que obras estruturantes como o Saneamento Básico ou o Porto da Horta não sejam devidamente planeadas e no futuro se tornem obsoletas.

Gostaria também de salientar outro aspecto importante, que é a conservação e a sustentabilidade urbana da nossa cidade. Sei que existem planos de ordenamento territorial com regras relativamente à construção e modificação de habitações. No entanto, se não tomarmos medidas imediatas de planeamento mais detalhado de certas zonas da cidade da Horta, corremos o risco de perder testemunhos arquitectónicos, artísticos e patrimoniais. Em determinadas zonas há que haver um planeamento pormenorizado, para impedir que certos edifícios percam o seu valor histórico e cultural. Nesse sentido penso que, por exemplo, a empresa municipal Urbhorta poderia ter uma intervenção mais activa.

O ideal é conseguir compatibilizar a tradição com o modernismo; é possível manter as fachadas de acordo com a nossa tradição arquitectónica, e impedir a execução de obras que desvalorizam a nossa cidade e o nosso património.

Temos também muitos problemas na área do trânsito e do estacionamento e, novamente, esta altura, com a obra do saneamento básico à porta, é a ideal para se pensar e intervir nessa área.

Outro aspecto importante que defendemos é a inclusão social, que é algo que não está bem estruturado. Existem situações em que, em vez de se fazer a inclusão, faz-se a exclusão social. Quando existem grupos com determinadas carências económico-sociais que são integrados em determinados espaços como os bairros sociais a tendência é aumentar a exclusão. As pessoas, para serem devidamente integradas, devem sê-lo em outros sítios, já que concentrá-las todas no mesmo local é, sim, uma forma de exclusão. Além disso, a inclusão social não deve passar por facilitar a vida das pessoas em tudo mas sim dar-lhes condições, através de um processo educacional, para criarem autonomia a todos os níveis, que permita inseri-los no mercado de trabalho. Criar dependência do apoio do Estado não é inclusão social.

No Faial já existem muitas situações preocupantes a nível social, embora muitas vezes se pense o contrário. Esta é uma situação que nos diz respeito a todos nós, enquanto cidadãos e, evidentemente, à autarquia.


Como vê a posição do Faial no todo Regional?

Acho que o Faial parou no tempo em relação ao resto da Região, no entanto não estou aqui para prometer isto ou aquilo, nesse sentido. A nossa prioridade é ir ao encontro das pessoas. A população tem de ter um papel activo no desenvolvimento local, e os políticos têm obrigações perante os cidadãos faialenses; têm de justificar a utilização dos dinheiros públicos. Penso que é necessária uma maior transparência.


A abstenção é um fenómeno cada vez mais transversal aos actos eleitorais, e cada vez mais a classe política se diz preocupada com os seus números. O que pensa disto?

Penso que a abstenção se deve à desilusão das pessoas em relação à política, que faz com que se envolvam pouco nessa área. Os políticos prometem muito, vendem sonhos, mas os orçamentos são pequenos para tantas promessas. As pessoas estão desiludidas com esta forma de fazer política. Na véspera da campanha começam-se pequenas obras, que por vezes estão à espera de se realizar durante dois ou três anos, mas é sempre nesta altura que começam. É uma maneira de angariar votos…


Como vai ser a sua campanha?

Vai ser voltada para as pessoas, em contacto com elas. Não vou prometer fazer isto ou aquilo; antes de mais vou procurar saber quais são as necessidades dos faialenses, o que é que eles acham que está mal, e quais as suas sugestões sobre o que se poderia fazer. Quero, principalmente, escutar, e ir ao encontro dos anseios das pessoas, bem como mostrar-lhes que queremos trabalhar em prol do Faial.

Será, acima de tudo, uma campanha com muito diálogo, abertura e clareza. Não vou vender sonhos nem falsas promessas.


Quais são as suas expectativas para o dia 11 de Outubro?

Não gosto de fazer previsões, e neste momento não penso muito nisso. Vamos falar com as pessoas, saber o que acham da nossa realidade e, com base nessa informação, apresentar as nossas propostas. Depois, logo se vê.

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