Urge recuperar e dinamizar o património religioso no Faial
Amanhã , dia 18 de Abril, celebra-se o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. Esta efeméride foi criada em 1982, pelo Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios, tendo sido aprovada pela UNESCO. O objectivo é aproveitar a efeméride para sensibilizar o público da diversidade do património cultural e dos esforços que requerem a sua protecção e conservação. Este dia serve de pretexto para um olhar mais atento sobre o estado do património na ilha do Faial.
Saltam à vista, como situações mais preocupantes, as igrejas do Carmo e de São Francisco, cujo nível de degradação é alarmante.
Recuperação da igreja do Carmo deve resultar do diálogo entre a Igreja e o Governo Regional
Quem o diz é o Padre Marco Luciano, ouvidor da Horta, e actualmente responsável por aquela Igreja. Para o pároco, as igrejas do Carmo e de São Francisco representam as situações mais preocupantes de degradação do património do Faial.
A recuperação da igreja do Carmo iniciou-se há alguns anos, tendo sido interrompida pelo facto de ter sido excedida a verba atribuída para esse efeito, como disse à nossa reportagem o ouvidor da Horta. De então a esta parte a degradação da igreja tem-se acentuado. No final de 2008, por exemplo, foi necessário colocar o tecto numa das partes do templo, que se encontrava a céu aberto. Esta situação mostra a necessidade latente de intervir naquela infra-estrutura.
No ano passado foi constituída uma Comissão de Gestão do Património do Carmo e Museu de Arte Sacra, com o objectivo de fazer um ponto da situação do espólio de arte sacra existente no Faial, e de levar a cabo as diligências possíveis no sentido de caminhar para a recuperação daquela igreja. O grande propósito desta Comissão é que a igreja do Carmo se possa tornar no Museu de Arte Sacra do Faial, como revela o Padre Marco Luciano.
A Diocese de Angra do Heroísmo não dispõe de capacidade financeira para gerir sozinha um objectivo tão ambicioso como este, daí que, de acordo com o ouvidor da Horta, o caminho passe por um protocolo de cooperação com o Governo Regional que, de resto, já interviu anteriormente na igreja do Carmo.
A este respeito, o Padre Marco Luciano diz ter notado por parte da actual directora regional da Cultura, Gabriela Canavilhas, “uma grande sensibilidade para estes assuntos, e uma abertura para que estas questões sejam faladas e solucionadas”.
A Comissão não duvida de que a igreja do Carmo pode ser um pólo dinamizador da cultura na Horta, enquanto Museu de Arte Sacra.
O Padre Marco Luciano considera importante ir além da recuperação do espaço, e apostar na sua dinamização: “um museu não deve ser um depósito de coisas. Tem de fazer suscitar nas pessoas a vontade de visitá-lo. Com o espólio que temos podemos ter sempre exposições temáticas e periódicas, que lhe conferem essa dinâmica”, explica.
Tendo isto em conta, a Comissão encetou já um trabalho de identificação do espólio existente, de modo a fazer um ponto da situação, trabalho esse levado a cabo num dos anexos da igreja Matriz.
Ouvidor da Horta desde 2006, o Padre Marco não esconde a vontade de ver consolidado o Museu de Arte Sacra na Igreja do Carmo, como “um espaço dinamizador da cultura artística e patrimonial que temos”.
O ouvidor considera que é extremamente importante que a população faialense ganhe consciencialização da importância do património religioso, que é, de resto, a grande referência patrimonial em toda a Região, com o Faial a não constituir excepção :”o que é a Horta sem a Igreja do Carmo e a de São Francisco? Quem entra de barco e olha para esta cidade vê essas grandes Igrejas, monumentos que caracterizam esta cidade”, explica.
Para o Padre Marco Luciano há que impulsionar uma consciência geral sobre o património, de modo a que o Faial não sofra mais perdas irreparáveis nesta área.
Incentivar à recuperação do património
Esta é a principal preocupação da autarquia faialense quando se fala do Património Edificado do centro histórico da Horta. Orlando Rosa, vice-presidente da Câmara Municipal da Horta, revela que “tem havido uma preocupação da autarquia em delinear planos que obriguem as pessoas a preservar o património. Está a ser concluído o Plano de Urbanização (PU) da cidade, que obriga à preservação das fachadas dos edifícios e sugere a classificação de uma série de edifícios como património municipal, por terem determinadas características”. Uma das medidas camarárias de incentivo à preservação do património, patente no Orçamento para 2009, é a isenção do IMI até cinco anos nos prédios recuperados dentro da zona histórica, cujo perímetro é delimitado precisamente pelo PU.
O mapa está a ser acertado de acordo com as exigências do Instituto Nacional de Reabilitação Urbana. Está na fase final, e contamos a qualquer momento poder levar a Assembleia Municipal este incentivo”, informa Orlando.
O vice-presidente lembra o vasto património de que o Faial dispõe, e gostaria de vê-lo recuperado e, sobretudo, dinamizado. Os Fortes da Espalamaca e do Monte da Guia são um dos exemplos que aponta: “são espaços interessantíssimos que deveriam estar abertos ao público, e tem havido da parte do Município um grande esforço para conseguirmos negociar com o Exército, para que essas infra-estruturas ficassem ao dispor dos cidadãos. Apesar de também haver uma abertura dos responsáveis militares, ainda não conseguimos resolver essa situação”, explica.
O autarca frisa que, actualmente, à recuperação do património deve estar associado um esforço na sua dinamização: “se não dermos vida a este património, ele está condenado a degradar-se novamente, e é inviabilizado o investimento que lá é feito. Há que encontrar soluções e dar funcionalidades aos espaços, ainda que funcionalidades diferentes daquelas que lhes eram tradicionais. Temos que valorizar a nossa história, preservando os nossos monumentos e a nossa cultura, mas temos de lhes dar funcionalidades que os mantenham”, refere.
A questão do património foi uma preocupação transversal à preparação do projecto do Saneamento Básico. Instado a pronunciar-se sobre os pavimentos do centro histórico, Orlando garante que o empedrado nessa zona será preservado, bem como os ladrilhos.
Colecção de Escultura da Igreja do Carmo em exposição
Foi precisamente para dar a conhecer parte do espólio da Igreja do Carmo que a Comissão criada no ano passado organizou uma exposição de Escultura, com a Via Sacra como tema.Esta mostra pode ser visitada na igreja Matriz até ao dia 30 de Maio. As visitas podem ser realizadas todos os dias úteis, entre as 17h00 e as 18h00.
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