A crise nacional generalizada no sector dos lacticínios tem vindo a sofrer agravamentos um pouco por todo o mundo, e os Açores não são excepção.
Recentemente, a anunciada decisão da Cooperativa Agrícola de Lacticínios do Faial (CALF) de voltar a pagar o leite aos produtores a 90 dias, em vez de a 60 dias, devido a dificuldades financeiras, veio relançar preocupações em relação a este sector, estruturante para a economia faialense. A decisão da CALF foi transmitida aos produtores através de uma carta, e caiu mal à Associação de Agricultores da Ilha do Faial (AAIF), o que terá motivado a cooperativa a voltar atrás, e a proceder ao pagamento como habitualmente.
José Agostinho, presidente da direcção da CALF, explicou que o pagamento aos produtores só foi possível graças ao sacrifício de prazos de pagamento a outros fornecedores, e reiterou as dificuldades que a fábrica atravessa actualmente. Esta situação levou ainda à demissão de Agostinho do cargo de presidente da Assembleia Geral da AAIF, motivado pelas declarações do presidente da Associação, António Ávila.
Falámos com o secretário regional da Agricultura e Florestas sobre a crise do sector e sobre esta situação em particular. Noé Rodrigues não hesita em considerar que as indústrias de menor dimensão, como a CALF, são as mais afectadas pela crise, e que, para que esta não se agrave, é importante que a Região e o País lutem em Bruxelas pela manutenção do sistema de quotas.
Em declarações ao diário local, José Agostinho disse estar a ser necessário vender produtos abaixo do preço de custo, tendo em conta a conjuntura actual de mercado. Noé Rodrigues reconhece que o mercado não tem sido benevolente para os produtores. O governante lembra que se tem verificado uma “baixa permanente dos preços praticados pela indústria de lacticínios aos seus produtores e fornecedores”. A própria CALF, de resto, decidiu em Julho passado baixar dois cêntimos no preço do leite. Noé entende que “isso devia reflectir-se em termos de consumo”, o que não tem acontecido: “a quebra dos preços pagos pela distribuição aos industriais e pelos industriais aos produtores não se tem sentido da mesma maneira. A quebra dos preços à indústria caiu nalguns produtos cerca de 30%, e na venda ao consumidor a descida foi apenas de 2%. Há aqui circunstâncias de mercado que são adversas aos produtores e às indústrias, em particular às que têm menor dimensão, como a CALF”, entende.
No entanto, Noé Rodrigues considera sensato que a CALF faça um esforço no sentido de não aumentar demasiado o preço aos produtores de leite, “resistindo a uma delapidação do preço junto da distribuição”. “É uma prova de que a CALF está a fazer um esforço para manter o rendimento e a sustentabilidade das explorações leiteiras do Faial”, entende.
Aumentar a produção leiteira pode ajudar a resolver o problema
Os produtores faialenses entregam anualmente 14 milhões de litros de leite na CALF, no entanto essa quantidade não é suficiente para assegurar a viabilidade da fábrica, que necessitaria de 20 milhões.
Em entrevista ao Tribuna das Ilhas em Novembro de 2008, José Agostinho reforçava a necessidade que a CALF tinha de mais leite, tendo em conta o seu carácter de economia de escala, onde o custo de produção de 10 mil litros é o mesmo que, por exemplo, de 20 mil, logo, a produção será mais rentável quanto maior for a quantidade de produto transformado.
Também Noé Rodrigues considera importante o aumento da produção leiteira, já que entende que, com mais leite transformado os custos fixos de produção descem o que permite baixar substancialmente o custo do litro de leite. Para o governante, a dificuldade em dispor da quantidade de leite que permita viabilizar confortavelmente a produção da CALF deve ser compensada com o factor qualidade. “Se tivermos produtos que possam ser comercializados a valores mais altos e que o mercado os aceite, esses produtos viabilizam mais facilmente uma fábrica que não tem o volume de leite necessário para suportar a factura dos custos fixos da sua exploração”. Tendo isso em conta, CALF e SRAF juntaram esforços para reabilitar o sector leiteiro no Faial, e têm trabalhado “na investigação e trabalho experimental no sentido de se desenvolver o fabrico de um produto mais valorizado, o queijo Moledo”.
Noé Rodrigues adiantou a esta reportagem que foi assinado um protocolo entre a SRAF e a CALF, disponibilizando alguns recursos financeiros para que a cooperativa desenvolvesse todo esse processo de investigação e experimentação. “Esse produto já começa a ser fabricado, precisa agora de ter um lançamento para o mercado”, explica.
Para além disto, a CALF tem desenvolvido um conjunto de acções “para racionalizar os seus custos fixos no sentido de os adequar permanentemente à sua dimensão económica”, segundo explicou o secretário. “Temos ainda uma vertente de apoio aos produtores agrícolas do Faial, em particular aos leiteiros, para se profissionalizarem mais na sua actividade, e serem mais sustentáveis e competitivos, porque esse é um factor importante que tem de ser desenvolvido no Faial”, acrescenta, referindo o que tem sido feito a este respeito nas Flores, com resultados positivos. “No Faial já fizemos reuniões com a CALF e a AAIF, no sentido de desenvolvermos um plano para a regeneração do sector leiteiro, para o aumento da produção e para profissionalizar mais os produtores da ilha”, informa.
“É fundamental manter o regime de quotas leiteiras”
No passado dia 7 de Setembro o ministro da Agricultura, Jaime Silva, esteve em Bruxelas, onde Portugal se associou a mais 15 países da União Europeia no pedido de medidas adicionais para combater a queda do preço do leite no produtor. O documento apresentado está a ser discutido e será votado no dia 28, quando o Conselho de Ministros da Agricultura da UE voltar a reunir. Este grupo de países defende a suspensão temporária do aumento das quotas leiteiras nos próximos dois anos, e também o aumento do valor das ajudas estatais permitidas sem o aval de Bruxelas para 15 mil euros. No entanto a comissária Europeia da Agricultura, Mariann Fischer Boel, torce o nariz a estas propostas, bem como a presidência sueca da UE.
Noé Rodrigues espera que Bruxelas atente nestas propostas, pois “numa circunstância de mercado como a que se verifica, o que mais se impõe é manter a regulamentação do mercado, ajustando aquilo que se produz às reais disponibilidades de consumo”. “Não podemos liberalizar o mercado permitindo que os que têm circunstâncias mais propícias possam crescer indefinidamente na produção leiteira afogando aqueles que têm maior dificuldade. É preciso manter o sistema de quotas, apesar de algum cepticismo em relação a esta possibilidade”, defende.
O secretário regional não tem dúvidas de que é preciso continuar a lutar pela manutenção do sistema de quotas leiteiras, pelo qual a Região lutou durante mais de 20 anos, e está optimista a que esta situação tenha um desenvolvimento favorável aos Açores: “Tenho esperança que os governos a nível europeu ouçam os seus agricultores, as suas associações de produtores e as suas unidades industriais, e que percebam que, quando os produtores reclamam pela segurança do sector leiteiro tem razão”. “É preciso manter com sustentabilidade o sector leiteiro em todos os países da UE e para isso é fundamental que se mantenha o regime de quotas”, até porque a ausência das quotas implicará, para o governante, um período ainda mais conturbado de imprevisibilidade no sector, o que representa um clima nada favorável ao seu crescimento.
Noé entende ainda que a recuperação dos níveis de preços praticados aos produtores só é possível com uma intervenção de Bruxelas. Além disso, o secretário regional defende que o mercado dos lacticínios se deve tornar mais transparente, nomeadamente na rotulagem dos produtos, preocupação que partilha também com o ministro da tutela, que sustentou precisamente a alteração das regras comunitárias no sentido de haver uma rotulagem mais completa sobre a origem e composição do leite.
Recentemente, a anunciada decisão da Cooperativa Agrícola de Lacticínios do Faial (CALF) de voltar a pagar o leite aos produtores a 90 dias, em vez de a 60 dias, devido a dificuldades financeiras, veio relançar preocupações em relação a este sector, estruturante para a economia faialense. A decisão da CALF foi transmitida aos produtores através de uma carta, e caiu mal à Associação de Agricultores da Ilha do Faial (AAIF), o que terá motivado a cooperativa a voltar atrás, e a proceder ao pagamento como habitualmente.
José Agostinho, presidente da direcção da CALF, explicou que o pagamento aos produtores só foi possível graças ao sacrifício de prazos de pagamento a outros fornecedores, e reiterou as dificuldades que a fábrica atravessa actualmente. Esta situação levou ainda à demissão de Agostinho do cargo de presidente da Assembleia Geral da AAIF, motivado pelas declarações do presidente da Associação, António Ávila.
Falámos com o secretário regional da Agricultura e Florestas sobre a crise do sector e sobre esta situação em particular. Noé Rodrigues não hesita em considerar que as indústrias de menor dimensão, como a CALF, são as mais afectadas pela crise, e que, para que esta não se agrave, é importante que a Região e o País lutem em Bruxelas pela manutenção do sistema de quotas.
Em declarações ao diário local, José Agostinho disse estar a ser necessário vender produtos abaixo do preço de custo, tendo em conta a conjuntura actual de mercado. Noé Rodrigues reconhece que o mercado não tem sido benevolente para os produtores. O governante lembra que se tem verificado uma “baixa permanente dos preços praticados pela indústria de lacticínios aos seus produtores e fornecedores”. A própria CALF, de resto, decidiu em Julho passado baixar dois cêntimos no preço do leite. Noé entende que “isso devia reflectir-se em termos de consumo”, o que não tem acontecido: “a quebra dos preços pagos pela distribuição aos industriais e pelos industriais aos produtores não se tem sentido da mesma maneira. A quebra dos preços à indústria caiu nalguns produtos cerca de 30%, e na venda ao consumidor a descida foi apenas de 2%. Há aqui circunstâncias de mercado que são adversas aos produtores e às indústrias, em particular às que têm menor dimensão, como a CALF”, entende.
No entanto, Noé Rodrigues considera sensato que a CALF faça um esforço no sentido de não aumentar demasiado o preço aos produtores de leite, “resistindo a uma delapidação do preço junto da distribuição”. “É uma prova de que a CALF está a fazer um esforço para manter o rendimento e a sustentabilidade das explorações leiteiras do Faial”, entende.
Aumentar a produção leiteira pode ajudar a resolver o problema
Os produtores faialenses entregam anualmente 14 milhões de litros de leite na CALF, no entanto essa quantidade não é suficiente para assegurar a viabilidade da fábrica, que necessitaria de 20 milhões.
Em entrevista ao Tribuna das Ilhas em Novembro de 2008, José Agostinho reforçava a necessidade que a CALF tinha de mais leite, tendo em conta o seu carácter de economia de escala, onde o custo de produção de 10 mil litros é o mesmo que, por exemplo, de 20 mil, logo, a produção será mais rentável quanto maior for a quantidade de produto transformado.
Também Noé Rodrigues considera importante o aumento da produção leiteira, já que entende que, com mais leite transformado os custos fixos de produção descem o que permite baixar substancialmente o custo do litro de leite. Para o governante, a dificuldade em dispor da quantidade de leite que permita viabilizar confortavelmente a produção da CALF deve ser compensada com o factor qualidade. “Se tivermos produtos que possam ser comercializados a valores mais altos e que o mercado os aceite, esses produtos viabilizam mais facilmente uma fábrica que não tem o volume de leite necessário para suportar a factura dos custos fixos da sua exploração”. Tendo isso em conta, CALF e SRAF juntaram esforços para reabilitar o sector leiteiro no Faial, e têm trabalhado “na investigação e trabalho experimental no sentido de se desenvolver o fabrico de um produto mais valorizado, o queijo Moledo”.
Noé Rodrigues adiantou a esta reportagem que foi assinado um protocolo entre a SRAF e a CALF, disponibilizando alguns recursos financeiros para que a cooperativa desenvolvesse todo esse processo de investigação e experimentação. “Esse produto já começa a ser fabricado, precisa agora de ter um lançamento para o mercado”, explica.
Para além disto, a CALF tem desenvolvido um conjunto de acções “para racionalizar os seus custos fixos no sentido de os adequar permanentemente à sua dimensão económica”, segundo explicou o secretário. “Temos ainda uma vertente de apoio aos produtores agrícolas do Faial, em particular aos leiteiros, para se profissionalizarem mais na sua actividade, e serem mais sustentáveis e competitivos, porque esse é um factor importante que tem de ser desenvolvido no Faial”, acrescenta, referindo o que tem sido feito a este respeito nas Flores, com resultados positivos. “No Faial já fizemos reuniões com a CALF e a AAIF, no sentido de desenvolvermos um plano para a regeneração do sector leiteiro, para o aumento da produção e para profissionalizar mais os produtores da ilha”, informa.
“É fundamental manter o regime de quotas leiteiras”
No passado dia 7 de Setembro o ministro da Agricultura, Jaime Silva, esteve em Bruxelas, onde Portugal se associou a mais 15 países da União Europeia no pedido de medidas adicionais para combater a queda do preço do leite no produtor. O documento apresentado está a ser discutido e será votado no dia 28, quando o Conselho de Ministros da Agricultura da UE voltar a reunir. Este grupo de países defende a suspensão temporária do aumento das quotas leiteiras nos próximos dois anos, e também o aumento do valor das ajudas estatais permitidas sem o aval de Bruxelas para 15 mil euros. No entanto a comissária Europeia da Agricultura, Mariann Fischer Boel, torce o nariz a estas propostas, bem como a presidência sueca da UE.
Noé Rodrigues espera que Bruxelas atente nestas propostas, pois “numa circunstância de mercado como a que se verifica, o que mais se impõe é manter a regulamentação do mercado, ajustando aquilo que se produz às reais disponibilidades de consumo”. “Não podemos liberalizar o mercado permitindo que os que têm circunstâncias mais propícias possam crescer indefinidamente na produção leiteira afogando aqueles que têm maior dificuldade. É preciso manter o sistema de quotas, apesar de algum cepticismo em relação a esta possibilidade”, defende.
O secretário regional não tem dúvidas de que é preciso continuar a lutar pela manutenção do sistema de quotas leiteiras, pelo qual a Região lutou durante mais de 20 anos, e está optimista a que esta situação tenha um desenvolvimento favorável aos Açores: “Tenho esperança que os governos a nível europeu ouçam os seus agricultores, as suas associações de produtores e as suas unidades industriais, e que percebam que, quando os produtores reclamam pela segurança do sector leiteiro tem razão”. “É preciso manter com sustentabilidade o sector leiteiro em todos os países da UE e para isso é fundamental que se mantenha o regime de quotas”, até porque a ausência das quotas implicará, para o governante, um período ainda mais conturbado de imprevisibilidade no sector, o que representa um clima nada favorável ao seu crescimento.
Noé entende ainda que a recuperação dos níveis de preços praticados aos produtores só é possível com uma intervenção de Bruxelas. Além disso, o secretário regional defende que o mercado dos lacticínios se deve tornar mais transparente, nomeadamente na rotulagem dos produtos, preocupação que partilha também com o ministro da tutela, que sustentou precisamente a alteração das regras comunitárias no sentido de haver uma rotulagem mais completa sobre a origem e composição do leite.
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