sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Em Pedro Miguel

Império das Encruzilhadas reconstruído para manter tradição


Desde 1918 que o edifício do Império era talvez o aspecto mais característico do sítio das Encruzilhadas, na freguesia de Pedro Miguel. A ele associada estava uma Irmandade do Espírito Santo, que punha de pé uma festa anual, no penúltimo fim-de-semana de Agosto. Em 1998 o Sismo destruiu por completo o Império, e a festa deixou de realizar-se. No entanto, há 5 anos, um grupo de pessoas decidiu pôr mãos à obra e retomar aquela tradição, de modo a angariar fundos para reconstruir aquele ex-libris da freguesia. Cinco anos depois, o edifício do Império das Encruzilhadas volta a ser uma realidade, tendo sido inaugurado no passado dia 23 de Agosto.


Luís Silva, Isidro Medeiros e Fernando Silva lideram a Comissão constituída para organizar a Festa do Império das Encruzilhadas. Estivemos à conversa com Luís Silva, que lembra que, inicialmente, o reaparecimento desta festa característica da freguesia de Pedro Miguel se deu de uma forma improvisada, no entanto o sucesso do primeiro ano foi o alento para repetir a façanha anualmente: “No primeiro ano já se fez algum dinheiro, criámos entusiasmo e continuámos”, explica.

O dinheiro de que a Comissão dispunha para a obra vinha exclusivamente do lucro da Festa das Encruzilhadas. Dessa verba, resultaram cerca de 10 mil euros para a construção do Império, a que acresceu algum apoio da Junta de Freguesia e vários habitantes, que, de resto, contribuíram também com muita mão-de-obra. A ajuda da freguesia foi, segundo Luís Silva, o que tornou possível esta inauguração: “a freguesia tem ajudado imenso em tudo, com dinheiro, com coisas para a festa… Sem a ajuda das pessoas nunca teria sido possível fazer o Império”.

A principal fonte de lucro da festa é o almoço de Sopas do Espírito Santo. No entanto, o almoço não é vendido. Todos os que o desejarem podem participar, e depois contribuir com o que entenderem para o Império.

Luís Silva mostrou-se agradavelmente surpreendido com a vontade de ajudar que mobilizou Pedro Miguel para esta causa, e orgulha-se de ter sido a freguesia a conseguir pôr de pé o Império: “as pessoas não podem esperar que seja o Governo a fazer tudo nas freguesias, também temos de tomar a iniciativa, e neste caso, todos ajudaram e o Império está de pé”, diz.

Nos seus tempos áureos, para além do Império existia a Sociedade de Socorros Mútuos, União e Beneficência do Espírito Santo, proprietária da então chamada “Casa da Sessão”, local de convívio de então. Como recorda Luís Silva, a Sociedade tinha seus Estatutos, distintos dos do Império, e os sócios pagavam quotas para a sua manutenção. “Na sociedade só os sócios é que entravam, bem como a família, mas apenas a que vivesse na mesma casa que o sócio, por isso eram normalmente os filhos mais novos das famílias a serem sócios, pois eram os que se iam manter mais tempo em casa”, lembra.

A escassez dos recursos financeiros disponíveis não permitiu pôr de pé um edifício como a Casa da Sessão, no entanto Luís Silva garante que os objectivos não se ficam por aqui: “queremos fazer uma casa para dar apoio ao Império. Se a Junta de Freguesia ceder um terreno próximo, no futuro pensamos fazer uma copeira”, explica.

Agora, com o Império de pé, o objectivo é recuperar a tradicional Irmandade. Esta ainda não está completamente oficializada, até porque, com o Sismo, os Estatutos do Império perderam-se, e só recentemente foi possível recuperá-los, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta. Apesar disso, a Irmandade conta já com 30 irmãos.

A preocupação em manter a tradição é, precisamente, o que norteia os impulsionadores do Império, que quiseram preservar a sua arquitectura o melhor possível. “Tínhamos fotografias do Império antigo, onde nos baseámos para construir este, explica”. Saltam à vista os degraus de pedra, precisamente a mesma pedra utilizada em 1918. “A pedra foi guardada, mas mesmo assim faltava já alguma, por isso foi muito trabalhoso montar os degraus”, explica Luís.

“Agora o Império está feito, temos de conservá-lo e respeitá-lo, e fazer a festa”, conclui.

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