sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Eleições Legislativas Regionais 2008

PS vence em todas as ilhas pela primeira vez

Sem grandes surpresas, o Partido Socialista repetiu a vitória de há quatro anos, garantindo novamente a maioria absoluta no hemiciclo açoriano, numas eleições que ficaram marcadas pela demissão do líder do PSD/Açores, Carlos Costa Neves.
As eleições do passado dia 19 de Outubro representaram o primeiro teste à nova Lei Eleitoral, que cumpriu o seu objectivo, garantindo a pluralidade parlamentar, com o maior número de forças políticas de sempre a ocupar as cadeiras do hemiciclo.
A taxa de abstenção atingiu um valor histórico.


A Era de César
4A noite do passado domingo foi do líder regional do PS nos últimos 14 anos, Carlos César, que garantiu novamente a maioria absoluta do partido no hemiciclo, ao mesmo tempo que os açorianos que foram às urnas lhe deram luz verde para o seu quarto mandato consecutivo na liderança do Governo dos Açores. O PS ganhou as eleições legislativas com 49,96%, quase 20 pontos percentuais à frente do principal partido da oposição, o PSD, que arrecadou 30,27% dos votos. Contas feitas, são 30 deputados para a facção rosa do parlamento, enquanto que o PSD contará com 18 elementos na sua representação parlamentar.
Ainda assim, César perdeu um mandato em relação aos 31 que detinha na anterior legislatura.
Pela primeira vez, o PS consegue a vitória em todas as ilhas, e em 18 dos 19 concelhos da região (a excepção foi as Lajes das Flores). A vitória em todas as ilhas apenas tinha acontecido há 32 anos, com Mota Amaral
No discurso da vitória, Carlos César não escondeu a felicidade, classificando o resultado como uma “inequívoca e expressiva vitória eleitoral”. “Sentimos com a reconfirmação eleitoral que hoje nos foi dada um sentimento de responsabilidade acrescido”, referiu, comprometendo-se a trabalhar para “fazer dos Açores a melhor terra possível para se viver”.
Carlos César destacou a vitória na ilha de São Jorge, talvez o principal “cavalo de batalha” do PS durante a campanha, e destacou que “vencer com maioria absoluta, com cerca de 20 pontos de vantagem sobre o segundo partido mais votado é, em qualquer região e qualquer país, uma grande vitória. Não há duas leituras”. O líder regional dos socialistas não poupou elogios ao seu homónimo nacional, frisando que esta eleição é também uma vitória de Sócrates. Por sua vez, de Lisboa, o actual primeiro-ministro não poupou elogios às qualidades políticas de César.
Relativamente à elevada abstenção Carlos César entende ser uma “opção legal dos cidadãos e uma responsabilidade negativa dos partidos políticos”. “Gostaríamos que a abstenção fosse menor, mas em democracia o que conta são as pessoas que votam no dia das eleições”, acrescentou.
O aumento da pluralidade política na Assembleia Regional é visto por César como uma vitória também do PS, já que mostrou as vantagens da nova lei eleitoral e, segundo o líder do PS vem reforçar a democracia regional”. “A oposição nos Açores deixou de ser só o PSD. Isso também é democracia”.


Derrota deixa antever novo ciclo político do PSD/Açores
4 E se o PS foi o vencedor na noite, o PSD teve a principal derrota política destas legislativas. Com resultados aquém das expectativas, os social-democratas perderam mandatos em relação às últimas legislativas.
O mal-estar da derrota no seio dos social-democratas agravou-se com a demissão do seu líder, Carlos Costa Neves. O antigo Ministro da Agricultura estava à frente dos destinos do PSD/Açores desde 2005, tarefa que assumiu após a demissão do anterior líder, Vítor Cruz.
Costa Neves entende ser tempo de “abrir um novo ciclo no PSD”, garantindo que não sai magoado com nada nem ninguém.
O resultado sentiu-se em Lisboa, com Manuela Ferreira Leite a enfrentar a sua primeira derrota política enquanto líder do PSD. Ferreira Leite mostrou-se desapontada com o resultado, e solidária com Costa Neves, cujas qualidades fez questão de destacar. Abstendo-se de fazer uma leitura nacional destes resultados, Ferreira Leite preferiu manifestar a sua preocupação quanto aos altos níveis de abstenção.
Com Costa Neves a abandonar a liderança dos social-democratas na região, as atenções voltam-se para Berta Cabral, presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e uma das figuras de proa do PSD/Açores, como uma das escolhas mais prováveis para abraçar a liderança dos destinos do partido.

Seis forças políticas no Parlamento Açoriano
4 Resultado da nova Lei Eleitoral, a próxima legislatura ficará para a história devido à maior representatividade parlamentar de sempre. PS, PSD, CDS-PP, BE, CDU e PPM estarão representados nos lugares do hemiciclo. O Círculo Regional de Compensação permitiu a eleição do 18.º deputado para o PSD, e do quinto deputado para o CDS-PP. A CDU também conseguiu eleger Aníbal Pires, mas o grande vencedor no que toca ao Círculo de Compensação foi o Bloco de Esquerda, que garantiu dois deputados.
A nova Lei Eleitoral cumpriu assim o seu propósito de reforçar a pluralidade política na Assembleia Regional. Este reforço foi também possibilitado pela eleição no Corvo do deputado Paulo Estêvão, pelo Partido Popular Monárquico.
O CDS-PP foi outro dos grandes vencedores destas eleições: se até agora Artur Lima era “one man band” no Parlamento, na próxima legislatura conta com mais quatro deputados no grupo parlamentar popular. O CDS-PP foi a terceira força mais votada na região, alcançando 8,7% dos votos, e deputados eleitos pela Terceira, por São Miguel, por são Jorge, pelas Flores e pelo Círculo Regional de Compensação. "Se alguém tinha dúvidas de que o CDS-PP existia nos Açores por si próprio - e mesmo aqueles que lançaram dúvidas a esse respeito - têm aqui a resposta do povo açoriano", referiu Artur Lima.

Abstenção histórica
4 Estas eleições ficam também marcadas pela abstenção mais alta desde o início da autonomia açoriana. Mais de metade dos eleitores ficaram em casa no domingo, com a taxa de abstenção a atingir os 53,24%, contra os 44,77% de 2004.
A abstenção foi mais alta nos centros urbanos. São Miguel foi a ilha onde a taxa foi maior (56,84%), seguindo-se Santa Maria (54,72%) e a Terceira (53,93%). O Faial foi a quarta ilha com mais eleitores a ficar em casa (50,12%). A ilha com taxa de abstenção mais baixa foi o Corvo (19,26%).
De acordo com os dados da Comissão Nacional de Eleições, a tendência evolutiva da abstenção ao longo dos anos nos Açores vai no sentido ascendente, à semelhança do que, de resto, acontece em muitas democracias em todo o mundo. No entanto, a situação não deixa de ser preocupante, tendo mesmo sido apontada nesse sentido por várias das figuras da noite eleitoral, inclusive Carlos César.
A tendência geral do crescimento da abstenção intensificou-se após a década de 80, sendo que em Portugal revela valores algo superiores às médias europeias.
As causas são variadas: a fraca competitividade política – que, de resto, se verificou nestas eleições regionais – é apontada pelos teóricos que se debruçam sobre este assunto como uma das razões que leva os eleitores a não ir votar. Como tal, a antecipação feita à volta da vitória socialista poderá ter tido implicação directa na elevada taxa de abstenção. Também o descontentamento com o funcionamento do sistema político é uma das razões mais fortes que impulsionam a abstenção eleitoral. Existem também teóricos que relacionam de forma directa o declínio da militância sindical e partidária com a subida da abstenção. Em termos etários, a tendência verificada é que as pessoas mais jovens contribuem mais para o abstencionismo eleitoral que as mais velhas.
Das várias causas apontadas para a abstenção eleitoral, uma das que reúne mais consenso é o facto daquela se dever em grande parte à diminuição da capacidade dos partidos políticos de mobilizar os cidadãos em relação às suas propostas eleitorais.
PS e PSD dividem mandatos no Faial

A noite eleitoral não trouxe grandes surpresas à ilha azul. Apesar da vitória do PS (contrariamente a 2004, quando a coligação PSD/CDS-PP saiu vencedora), socialistas e social-democratas dividiram os mandatos na Assembleia Regional. Assim, Fernando Menezes e Hélder Silva pelo PS e Jorge Costa Pereira e Luís Garcia pelo PSD foram os escolhidos pelos eleitores faialenses para representar os seus interesses no hemiciclo açoriano durante os próximos quatro anos.
A abstenção, à semelhança do que se verificou em toda a região, atingiu valores nunca registados, fixando-se nos 50,12%.


Fernando Menezes na presidência da Assembleia Regional?
4 Esta é uma das questões que mais se evidenciam após as eleições do passado domingo. Após quatro anos enquanto presidente da ALRA, Fernando Menezes foi o primeiro candidato socialista pelo Faial, onde o PS arrecadou 41,36% dos votos, voltando a ganhar, após em 2004 ter perdido para a Coligação PSD/CDS-PP. Menezes e Hélder Silva foram assim os socialistas eleitos para representar o Faial na próxima legislatura, no entanto as atenções estão voltadas para que lugar ocupará o cabeça-de-lista no hemiciclo: se voltará às funções de deputado, ou se bisará na presidência da instituição. Sobre esta questão, Fernando Menezes parece mostrar-se receptivo a mais quatro anos de presidência, mas não adianta grandes comentários: “Para já fomos eleitos deputados pelo Faial e vamos cumprir o mandato que recebemos procurando honrar os compromissos eleitorais que assumimos. Quanto à presidência da Assembleia, essa decisão compete ao PS, ao seu Grupo Parlamentar e por fim ao resultado de uma eleição que se fará oportunamente no parlamento”, refere.
Em relação à vitória socialista, Menezes considera que “este resultado constitui uma vitória do PS, de Carlos César e dos candidatos pelo Faial que se envolveram numa campanha eleitoral muito intensa”. “Recorde-se que há quatro anos existiu uma coligação formada pelo PPD/PSD e CDS/PP que contou ainda com os votos do PPM. Nestas eleições, o PS tem no Faial mais votos que todos esses partidos somados o que é muito significativo”, refere.
Menezes não esconde a satisfação pela maioria absoluta na região, entendendo que esta “resulta do reconhecimento dos açorianos pelo trabalho feito pelos governos do PS nos últimos anos que foi verdadeiramente meritório para todas as ilhas incluindo a nossa”.
Relativamente à introdução de mais forças políticas na ALRA, Menezes entende que esta ficará assim com um “representação mais plural”, e que a introdução do círculo de compensação cumpriu assim as funções previstas. “Recordo que o PSD esteve contra esta nova lei eleitoral”, lembra.
Também a elevada abstenção preocupa o socialista, que entende que as causas para esta realidade “são muitas e devem ser ponderadas com serenidade”. “Os cidadãos são porém livres de fazerem o que entenderem e não me parece que sejam os políticos os principais responsáveis. De qualquer modo é bom lembrar que o cidadão circula pela estrada que foi feita a partir de uma decisão política, vai ao hospital que foi construído por decisão política, vai visitar um museu que foi desenvolvido por decisão política, etc., e depois diz que não quer saber da política, dos partidos e finalmente das eleições”, acrescenta.
Quanto às questões prioritárias a serem discutidas na ALRA, no que diz respeito ao Faial os socialistas destacam “o arranque das obras do porto a Horta, a ampliação da pista do aeroporto e o inicio da execução o campo de golfe”.

Objectivo parcialmente cumprido para o PSD/Faial
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Quem o diz é Jorge Costa Pereira, cabeça-de-lista dos social-democratas pelo Faial, que irá assim ocupar um lugar na ALRA pela segunda vez.
Com 35,76% da intenção de voto no Faial, menos cerca de 14% em relação a 2004, ano em que ganhou as eleições na ilha, em coligação com o CDS-PP, o PSD conseguiu os mesmos dois mandatos de há quatro anos.
“O PSD candidatou-se a estas eleições no Faial com o objectivo de as vencer e de manter o número de deputados eleitos. Não conseguimos vencer em número de votos, mas mantivemos o número de deputados. Atingimos assim um dos nossos objectivos numa conjuntura que antevíamos difícil e que, nessa perspectiva, se concretizou”, refere.
Quanto aos níveis de abstenção, o social-democrata manifestou-se preocupado com a ultrapassagem da barreira dos 50%: “isto quer dizer que mais de metade dos eleitores açorianos desistiu de exercer o seu mais importante direito: o de escolher os seus representantes”. “Podemos apontar a razão circunstancial do desinteresse dos eleitores numa eleição cujo vencedor se dizia ser antecipado. Mas a verdade é que se acumulam sinais preocupantes de desinteresse e desencanto dos cidadãos com a política”, acrescentou, apontando como causas para esta situação o “folclore das campanhas eleitorais onde se promete tudo e depois não se cumpre, o exercício da política em circuito fechado longe dos eleitores e da realidade e o excessivo seguidismo partidário que sacrifica a defesa das pessoas aos interesses de quem está no poder”.
De acordo com Jorge Costa Pereira, os dois deputados laranja eleitos pelo Faial vão ocupar o seu lugar no hemiciclo, e prometem “dedicar particular atenção aos investimentos estruturantes e essenciais para o Faial, como a obra do porto ou a ampliação da pista do aeroporto”. “Aqui vamos fazer uma fiscalização muito próxima da acção do governo exigindo clarificação, calendarização e informação completa. Por exemplo, só se fala da 1ª fase da obra do porto e importa saber quais são as outras, o que consta de cada uma, qual a sua calendarização, qual a programação financeira que está prevista, etc”, refere. O PSD/Faial promete não desiludir na sua acção parlamentar: “a confiança que os eleitores em nós depositaram exige que no Parlamento façamos também eco das suas aspirações e dos seus problemas”, frisou.

CDU aquém dos objectivos
4 A CDU lutava pela eleição de um deputado pelo Faial, o que não aconteceu. Os 10,39% de intenção de voto no partido (menos 6,86% que em 2004) não foram suficientes para alcançar o objectivo.
Segundo Luís Bruno, cabeça-de-lista comunista, a não eleição do deputado é, mais que uma derrota para a CDU, uma perda para o Faial, pois representa menos uma voz na defesa dos interesses da ilha. “Quanto a propostas eleitorais novas ou propostas de reforço da defesa das nossas mais-valias tradicionais, não vi por parte das outras forças políticas nenhuma preocupar-se tanto como a CDU”, refere.
Quanto a factores para estes resultados eleitorais, Bruno aponta três: “o primeiro, da nossa responsabilidade – não ter conseguido esclarecer e mobilizar os eleitores em torno daquilo que defendemos para a nossa ilha e para os trabalhadores; o segundo, não termos conseguido que o eleitorado distinguisse que, embora fossem eleições diferentes – para a Assembleia Regional e não Autárquicas, a presença da CDU em ambos os órgãos beneficiaria, pela pluralidade resultante, a importância do Faial no contexto político dos Açores; o terceiro, a permanente campanha de desinformação, contra-informação e ocultação do trabalho da CDU desenvolvido a nível autárquico e partidário durante os últimos três anos e com particular incidência durante o período de pré e campanha eleitoral”. A abstenção também terá, segundo Luís Bruno, contribuído para a baixa de votação obtida pelo seu partido.
O comunista não encara este resultado como uma derrota pessoal: “estou triste, porque penso que com um resultado melhor, poderia ajudar mais o desenvolvimento da nossa ilha, dar uma alegria à minha família, a todos os amigos, companheiros e camaradas da CDU – não o consegui. Mas isso, em nada diminuiu quem sou e o que sinto pelo Faial e pelos faialenses. Como disse, no dia seguinte às eleições, continuo a ser a mesma pessoa. Eu não me demito!”, frisa.
Quanto à eleição do comunista Aníbal Pires, Bruno diz que “será um deputado combativo, tenaz, lutador, com a clarividência necessária para procurar as melhores soluções para a Região Autónoma dos Açores e para os que nela trabalham”. “No que respeita ao Faial, os seus interesses e ambições estão bem entregues no deputado da CDU”, acrescenta.


CDS-PP esperava melhor
4 Almérico Freitas, cabeça-de-lista pelo CDS-PP no Faial, confessa que esperava ter obtido melhores resultados na ilha, apesar de se mostrar satisfeito com os 4,58% de intenção de voto, e principalmente com o aumento da popularidade do seu partido em algumas freguesias, como o Capelo, a Praia do Norte, os Flamengos, etc.
“Estou com a minha consciência tranquila”, refere, acrescentando que sabia à partida a dificuldade da tarefa que abraçava ao concorrer a estas eleições.
A nível regional, os resultados dos populares foram extremamente positivos, como realça Almérico Freitas, destacando a eleição de um deputado pelo círculo regional de compensação. O popular faialense disse ao Tribuna que o partido espera poder fazer um uso rotativo desse deputado eleito, cabendo a militantes populares das várias ilhas ocupar rotativamente o quinto lugar no hemiciclo. Independentemente disso, Almérico Freitas garante que os interesses dos faialenses estão salvaguardados pelo grupo parlamentar do CDS-PP.
“Espero que os deputados eleitos pelo PS e pelo PSD façam agora o que nunca fizeram durante os quatro anos anteriores”, referiu Almérico Freitas à nossa reportagem.

BE satisfeito com resultados eleitorais
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Entre 2004 e 2008 o Bloco de Esquerda triplicou a sua votação no Faial, passando de 0,84% a 2,78%. Para o bloquista Mário Moniz esta é uma clara vitória, “embora, em números absolutos, o resultado fique aquém das expectativas da simpatia que sentimos haver pelas bandeiras e causas levantadas pelo BE/Açores”, refere.
Os resultados incentivam o BE/Faial a continuar a luta.
A abstenção foi sempre uma preocupação do BE, que se verificou ser fundamentada. “Compreende-se que as pessoas estejam desmotivadas com as promessas falsas, fartas de ser enganadas com discursos inflamados que não passam de retórica demagógica, que cheguem à conclusão que os, ditos, partidos do poder, afinal, sejam iguais… cada vez mais iguais”, explica, entendendo que esta é, no entanto, mais uma razão para cada um “participar na discussão política das decisões e votar”.
Em relação à eleição de dois deputados na região, Mário Moniz considera-a uma “grande vitória”. “ Tínhamos a noção de que estava assegurada a eleição da Dr.ª. Zuraida Soares, mas foi com enorme alegria que vimos o aumento significativo da nossa votação, permitindo a eleição do segundo candidato”, referiu.
Projecto da nova igreja de Pedro Miguel já está na Câmara Municipal da Horta


LANÇAR CONCURSO NO INÍCIO DO ANO É O OBJECTIVO

O projecto arquitectónico da nova igreja da freguesia de Pedro Miguel já foi entregue para apreciação na Câmara Municipal da Horta. A entrega do dossier decorreu no passado dia 16, e contou com a presença dos arquitectos Martins Naia e João Paredes – este último responsável pelo projecto -, bem como do Ouvidor da Horta, padre Marco Luciano, do pároco de Pedro Miguel, Tomás de Brito e ainda de representantes da Comissão dos Assuntos Económicos da Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda.
A recepção esteve a cargo do presidente da edilidade, João Castro, e do vereador com o pelouro das obras, Orlando Rosa.
O arquitecto Martins Naia pediu celeridade por parte da autarquia na análise do projecto, esperando-se que a obra possa ser lançada a concurso no início do próximo ano. João Castro, por sua vez, garantiu um esforço da autarquia no sentido de ir ao encontro desse objectivo.
Orçada em cerca de um milhão e quinhentos mil euros, de acordo com o padre Marco Luciano, a obra da nova igreja de Pedro Miguel será comparticipada pelo Governo Regional em 75%. Relativamente aos encargos financeiros da responsabilidade da paróquia, o Ouvidor expressou a sua convicção de que esta será capaz de “fazer face aos compromissos”. De facto, várias têm sido já as iniciativas organizadas pela Comissão dos Assuntos Económicos daquela paróquia no sentido de reunir a verba necessária para a concretização deste projecto.
Relativamente à reconstrução das igrejas do Faial, o projecto da igreja de Pedro Miguel, que será uma construção inteiramente de raiz, foi o último a ser concluído, não significando no entanto que seja a obra seja a última a ser concretizada, como frisou o arquitecto responsável. João Paredes destacou o envolvimento da comunidade pêro-micaelense com o projecto da nova igreja, e fez uma breve apresentação do projecto aos autarcas presentes. Uma área de culto mais reduzida (180 lugares), de acordo com as necessidades, uma via de acesso interior paralela à Estrada Regional, e o facto do projecto não dispor de áreas para outras actividades pastorais, como por exemplo salas de catequese, por não ser necessário visto a paróquia já dispor de infra-estruturas nesse sentido, foram alguns dos aspectos destacados pelo arquitecto. Paredes salientou também a torre da nova igreja, que pretende ser uma espécie de “homenagem” à antiga, notável marco arquitectónico daquela construção, que ao longo dos anos se tornou um verdadeiro ex-libris da freguesia de Pedro Miguel.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008


AÇORIANOS VÃO A VOTOS


Este domingo, os açorianos vão a votos para escolher os deputados que os representarão na Assembleia Legislativa Regional, e também o Governo da Região para os próximos quatro anos. Estas são as nonas eleições legislativas na região, e um “teste” ao novo sistema eleitoral, que prevê um décimo círculo eleitoral, pelo qual serão eleitos cinco deputados. Este novo modelo funciona como se o voto de cada eleitor contasse duas vezes: de forma directa, para a eleição dos deputados pela sua ilha, e depois, de forma indirecta, na escolha dos deputados do novo círculo regional de compensação. Os deputados são apurados em cada ilha pela aplicação do Método de Hondt. Na primeira contagem ficam eleitos através deste sistema os 52 deputados dos nove círculos eleitorais correspondentes a cada uma das ilhas dos Açores. Depois, também pela aplicação do Método, são apurados mais cinco deputados, pelo círculo regional de compensação.
Dos cerca de 190 mil eleitores açorianos, 11 535 são faialenses.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Vamos lá ver o que é que sai daqui...

Primeiro que tudo, o seu a seu dono! A ideia de começar este blogue não foi minha, mas sim da minha "chefe", mulher de armas e de ideias, que sugeriu - muitas vezes, até que finalmente acatei a sugestão - que eu criasse um blogue, que seria o espaço perfeito para divulgar alguns dos meus trabalhos jornalísticos publicados no jornal onde ambas trabalhamos. Aliciada aos poucos pelo blogue dela, lá pus de parte a minha aversão aos computadores e decidi ver o que é que era capaz de fazer.

A forma vai ser pobre (porque realmente não tenho jeitinho nenhum para isto) mas o que interessa é o conteúdo, e aí prometo um esforço...








Esta reportagem fi-la na faculdade, em 2006, para a cadeira de Géneros Jornalísticos. Tendo em conta o tempo que passou, já não tem grande valor notícia (e pronto, lá se vai a pertinência do título deste blogue). No entanto, nunca chegou a ver a "luz do dia" e, pelo trabalho que deu e pelo facto de me ter permitido aprender muito, acho que conquistou o seu lugar aqui...




Geração "Morangos"


São onze horas da manhã e soa a campainha para o intervalo na Escola Básica de Pedro Miguel, ilha do Faial, Açores. Enquanto uma parte dos alunos corre para a rua para aproveitar o bom tempo, que só recentemente apareceu, um outro grupo reúne-se nos degraus da escada para começar a sua mais recente brincadeira favorita: jogar com os cromos da série “Morangos com Açúcar”. São os “morangomaniacos”, um grupo cada vez maior entre as crianças portuguesas.

“Morangos com Açúcar” – O Fenómeno

Quando o primeiro episódio de “Morangos com Açúcar” foi para o ar, a 1 de Setembro de 2003, foi apresentado como mais uma das grandes apostas da TVI. No entanto, o êxito da série juvenil da autoria da Casa da Criação e produzido pela NBP superou todas as expectativas: actualmente, quase 3 anos passados, vai já na sua terceira edição e é campeã de audiências na televisão em Portugal.
A faixa etária junto da qual os “Morangos com Açúcar” fazem maior sucesso é a dos jovens dos 4 aos 24 anos, destacando-se os elementos do sexo feminino.
Na linha do êxito brasileiro “Malhação”, os “Morangos com Açúcar” retratam o dia a dia de um grupo de jovens portugueses. Caras bonitas, cenários coloridos, muita música e temas e histórias que tocam de perto os adolescentes e jovens portugueses serão alguns dos principais ingredientes desta receita de sucesso.
Além disso, “Morangos com Açúcar” funciona como uma escola de actores. Benedita Pereira, Joana Solnado e Diogo Amaral são apenas alguns exemplos de jovens actores lançados em anteriores séries de “Morangos com Açúcar” e que se começam a afirmar na representação em Portugal, participando actualmente em outros projectos televisivos.
O êxito não se restringe apenas a Portugal: “Morangos com Açúcar” também tem feito sucesso além fronteiras, destacando-se o Brasil, onde a série foi premiada em 2004 pela agência de notícias TV Press como a melhor novela estrangeira a ser exibida em terras de Vera Cruz.
Também em 2004, segundo o Relatório e Contas do grupo MediaCapital, a série foi exportada para a Roménia e para Israel. De facto, e de acordo com este Relatório, os “Morangos com Açúcar” são umas das principais fontes de receita daquele grupo.
O sucesso dos “Morangos com Açúcar” não se limita ao mercado televisivo: A edição das bandas sonoras das várias séries tem presença garantida nos tops, e a Farol Música - editora discográfica do grupo Media Capital – arrecadou só em 2004 uma dupla platina e uma platina com CDs da série.
Os D’zrt, banda pop saída da série para a vida real, mostram bem a dimensão do êxito de tudo o que se relaciona com esta série juvenil, já que conseguiram longas semanas de liderança na tabela nacional de vendas.
A presença quer dos D’zrt quer dos actores que protagonizam os “Morangos com Açúcar” na capa das revistas juvenis funciona como garantia de vendas, e o próprio mercado publicitário se agita em torna da “morangomania”, com cada vez mais marcas a apostar no sucesso da série para assediar os jovens consumidores. A publicidade dentro da própria série e os spots publicitários protagonizado pelos personagens são recursos a que cada vez mais marcas recorrem para se afirmar junto dos mais jovens. Nívea, Gola, Veet, Playstation e Chupa-Chups são apenas alguns exemplos.

Pequenos “Morangólicos”…
Todo este sucesso de “Morangos com Açúcar” coloca questões pertinentes, principalmente no que diz respeito ao impacto que tem sobre as crianças dos 4 aos 12 anos. Nesta faixa etária tem-se assistido a um número crescente de “aficionados” da série, que trocam os desenhos animados e as brincadeiras ao ar livre pelas últimas peripécias no “Colégio da Barra”. A comprová-lo está um estudo recente levado a cabo pelas empresas APEME (Área de Planeamento e Estudos de Mercado) e BrandKey e pelo investigador Georg Dutschke, segundo o qual 95% do tempo livre da “pequenada” é passado em frente ao pequeno ecrã, e 50% dos miúdos não troca as aventuras de Matilde, Tiago e companhia pelo encanto dos desenhos animados. De acordo com este estudo, quanto se pede aos mais novos elejam um herói, o jovem feiticeiro Harry Potter tem de contentar-se com o segundo lugar do pódio, já que em primeiro estão, indiscutivelmente, os D’zrt.
A “morangomania” assume contornos de grande destaque, um pouco por todo o país. A comprová-lo estão as filas quilométricas de jovens e crianças que se juntaram à porta da Casa do Artista, no final de Janeiro, para os castings para a série de Verão.
Nas escolas, os temas de conversa e as brincadeiras do recreio começam a ser cada vez mais dominados pelo universo dos “Morangos”.
Ana Elisa, de 9 anos, aluna da Escola Básica de Pedro Miguel, explica com naturalidade esta tendência: “Prefiro ver os ‘Morangos’, porque têm mais originalidade. Os desenhos animados são sempre a mesma coisa”. A colega, Carolina, de 8 anos, partilha da mesma opinião: “Os ‘Morangos’ são mais fixes.”. Vasco, um pouco mais velho, com 12 anos “e alguns meses” – como faz questão de salientar – classifica-se a ele próprio como um pré-adolescente, e é espectador assíduo da série. Já o seu irmão mais novo, Tomás, de 7 anos, também gosta de ver, mas quando se trata de escolher entre os “Morangos” e os desenhos animados, aí as coisas tornam-se mais difíceis…
No entanto, no que toca a escolher um ídolo, ninguém hesita em apontar personagens da série: Ana Elisa e Tomás deleitavam-se com as brincadeiras do “Dino Man”, enquanto Carolina prefere a irreverência de Manel. Já Vasco é fã incondicional de Matilde, que segundo ele “é bem bonita”.
Em casa de Goretti Pereira, ama de 3 meninas, os “Morangos com Açúcar” também são tema de conversa, apesar da mais velha ter apenas 6 anos. Ana Beatriz e Inês, de 6 e 5 anos, respectivamente, também têm uma palavra a dizer. Inês é fã incondicional e, apesar da pouca idade, já troca de boa vontade as aventuras do Noddy ou do pequeno Ruca pelos “Morangos”. Já Ana Beatriz, espectadora assídua do Disney Channel e do Canal Panda, não está disposta a tanto, mas também domina perfeitamente o enredo da série. Até a pequenita Raquel, com apenas 3 anos, sabe do que se fala quando se fala de “Morangos com Açúcar”, e acompanha as mais velhas nas cantorias de “Para mim tanto me faz”, tema de sucesso dos D’zrt.
Os “Morangos com Açúcar” já dominam uma parte do universo infantil, o que traz várias repercussões a vários níveis.
A Escola Básica de Pedro Miguel, onde as brincadeiras e as conversas dos alunos estão cada vez mais relacionadas com a série juvenil, é, neste sentido, paradigmática do que se passa um pouco por todo o país.

“Morangos com Açúcar” – um modelo comportamental
Recentemente grupos de alunos de várias escolas do país deram entrada em hospitais com sintomas de alergias, concluindo-se que se tratava de imitação do comportamento de várias personagens da série, afectadas por um vírus que se espalhou no “Colégio da Barra”. Em declarações à agência Lusa, Mário Almeida, do INEM/Norte, referiu que esta se terá tratado de uma situação “psicológica”, em que as crianças desenvolvem comportamentos miméticos em relação à série. Este fenómeno foi designado por alguns psicólogos por “psicose colectiva”.
A “febre” dos “Morangos”, tão aclamada nos últimos tempos, começa com esta situação a assumir contornos algo preocupantes e a dar que pensar. A forma como esta série juvenil influencia os comportamentos das crianças que a vêem com regularidade tem levantado alguma polémica, e feito correr muita tinta.
Marco Santos, psicólogo, considera que fenómenos como este “são passíveis de acontecer”, tendo em conta o impacto da série. “Os ‘Morangos com Açúcar’ tocam as crianças nas áreas em que elas se sentem mais fascinadas, principalmente a partir dos 10 anos” – refere - “Eles identificam os problemas dos adolescentes da série com problemas que eles próprios começam a ter.” No entanto, Marco desdramatiza a situação, considerando a utilização do termo “psicose” “algo forte”. Para o psicólogo, este tipo de fenómenos deve-se essencialmente à grande identificação das crianças com a série, aliada ao facto de se integrarem em grupos.
Nestas situações, o peso do grupo é, segundo Marco, um factor extremamente importante, que pode “potenciar muitas vezes determinados comportamentos por imitação”.
Para o psicólogo, este tipo de séries funciona como um modelo comportamental para as crianças, já que o seu grande impacto junto delas é exactamente o facto de potenciarem um comportamento associado às imagens da série: “O impacto que uma série como os ‘Morangos com Açúcar’ tem na criança é principalmente o facto de criar mitos, criar empatias com determinada personagem, porque vivem o problema dessa personagem.”
Junto das crianças, a imitação do que vêem na série é encarada como normal e frequente. Ana Elisa conta como ela e as amigas são fãs do hip hop desde que viram as personagens da série praticar este tipo de dança: “Até dançámos uma coreografia com uma música dos D’zrt no Dia da Criança”. Carolina fala com orgulho de como lhe fica bem o penteado da personagem Mimi, e das suas luvas preferidas, sem dedos, como as da Becas. “Também gosto de fazer grafittis”, refere. Também Vasco não resiste à técnica do grafitti: “Grafittei o meu nome no pátio de casa. Mas os meus pais ainda não viram”, diz com ar malandro. No entanto Vasco não se fica por aqui: Rosa Andrade, mãe de Vasco e Tomás, fala das coisas que o filho mais velho gosta de imitar em relação aos “Morangos”: “Ele faz desenhos no cabelo, como o Kiko, e gosta de vestir como eles”.
De facto, desde a forma de vestir até aos passatempos, passando pelo tipo de linguagem, as crianças não resistem a imitar os seus personagens favoritos da série.
Cristina Gomes, directora da Escola Básica de Pedro Miguel, reconhece que, desde que o fenómeno “Morangos” começou, as brincadeiras relacionadas com a série têm dominado os recreios: “Fazem muito as danças de hip hop, inclusive trazem as músicas dos ‘Morangos’ para dançar, e tentam copiar as coreografias. Agora o que está na moda são os cromos.”.

Sobremesa envenenada?...
A influência dos “Morangos com Açúcar” enquanto modelo comportamental pode trazer alguns riscos, principalmente no que diz respeito às crianças mais pequenas.
Marco Santos alerta para o facto de que uma criança de 4 anos não tem o mesmo juízo crítico que tem, por exemplo, uma de 10. Para os mais pequenos “a interpretação das imagens e dos contextos é mais difícil”. Segundo Marco, o grande problema é o facto de muitas vezes os significados não serem trabalhados.
O psicólogo salienta também a grande carga materialista associada à série: “Não se vê um adolescente mal vestido, não se vê um adolescente normalmente vestido; vê-se, sim, um adolescente pintado, retocado, com gel, associado ao mundo da moda… O que os ‘Morangos com Açúcar’ provocam muitas vezes, independentemente das dinâmicas entre as personagens, é o fascínio da roupa, do materialismo… E isso não é nada saudável.”. Para Marco este é um dos grandes problemas da série, mas que não se restringe a ela. Na sua opinião actualmente em Portugal é frequente “treinar as crianças no prazer do materialismo”. “Para as crianças aquilo que é fantástico está fora do alcance delas, mas é algo palpável, que podem trocar por dinheiro e conseguir”, salienta.
Marco considera preocupante o facto de várias marcas aliciarem as crianças através da inclusão de publicidade na série: “Isto é uma das coisas que tem de ser trabalhada. Não se trata de simplesmente ‘colocar um travão’ porque esses estímulos existem e sempre existirão. Isto tem já a ver com o que vai ser importante mais tarde, que é a importância de desenvolver o ‘não’ junto do adolescente”.
Além do materialismo, outro factor que está algo inerente aos “Morangos com Açúcar” é a importância da beleza e da elegância. Grande parte dos actores que já passaram e continuam a passar pela série são modelos. A agência de modelos L’Agence já forneceu um grande lote de manequins como matéria-prima para os “Morangos”. Cláudia Vieira (Ana Luísa), Dânia Neto (Maria) e Rita Pereira (Soraia), são apenas alguns exemplos.
O facto da maior parte dos personagens da série serem pessoas bonitas e elegantes pode acabar por funcionar como uma aspiração para os fãs. Nesta medida, a série acaba por de algum modo promover o culto do corpo e a ostentação da beleza, o que traz alguma negatividade.
Um outro acontecimento que veio instigar alguma polémica a respeito da forma como a série “Morangos com Açúcar” é apresentada ao público infantil foi a morte do actor Francisco Adam (que interpretava o popular “Dino”), num acidente de viação, ocorrido a 16 de Abril de 2006. O facto da morte do jovem actor ter tido grande cobertura mediática, mas ao mesmo tempo o seu personagem continuar a aparecer na série, fez alguma confusão ao público mais novo.
Rosa Andrade refere que teve de ter algum cuidado ao explicar a situação ao filho de 7 anos: “Explicámos-lhe que o Dino tinha morrido na vida real e que tinham de acabar com o personagem dele”. Quanto à forma como os argumentistas delinearam o final da personagem, também não ficou claro para o Tomás, pelo que Rosa teve de explicar o que se passou: “Dissemos-lhe que era a despedida dele, e que alguém dentro do balão fez de conta que era ele a atirou o boné – que era um símbolo dele”.
Para Ana Beatriz e Inês, também foi difícil perceber esta situação, valendo-lhes a ajuda da professora. “Ele continuou a aparecer na novela porque as cenas já estavam gravadas” – explica Ana – “Eu sei porque a nossa professora explicou”.
Cristina Gomes salienta a repercussão de que se deu conta na escola ao nível da morte do actor: “Quando a escola começou, depois das férias da Páscoa, os miúdos queriam vestir muito o cor-de-laranja, porque era a cor preferida do actor, e falavam muito no que aconteceu. A algumas crianças fez muita confusão o facto dele ter morrido e ter continuado a aparecer na série, mas nós conversámos sobre isso na sala de aula; explicámos o porquê dessa situação, e eles entenderam”.
Carolina, apesar de ter entendido o porquê do actor continuar a aparecer na série, teve alguma dificuldade em lidar com a situação, a nível emocional: “Fiquei mesmo muito triste. Chorei muito”, conta, referindo-se à morte de Francisco Adam.
O psicólogo Marco Santos refere que este tipo de reacções é normal, tendo em conta a carga emocional que liga a criança à série: “O facto deles saberem que se trata de actores e que há um guião é uma separação em relação à realidade” – explica – “mas a carga emocional que é posta ali é tanta que eles se abstraem desse facto”.

O Papel dos Pais e Educadores
Tendo em conta este tipo de influência nas crianças, surgem dúvidas acerca da necessidade ou não de existir um controlo do visionamento da série, no que diz respeito ao público infantil.
Os “Morangos com Açúcar” têm recebido duras críticas devido à forma coma abordam certas temáticas. Recentemente, numa jornada católica intitulada “A família no projecto criador de Deus”, este tema foi debatido, concluindo-se que a série pode incitar ao malefício do ritmo social, e que ilustra bem realidades preocupantes, como o materialismo e os pais ausentes.
Em declarações publicadas no Jornal de Notícias (2 de Maio de 2006), Inês Gomes, coordenadora dos guionistas da série, alerta para o facto do objectivo primordial da série ser entreter, e não educar. Além disso, salienta que todas as atitudes censuráveis tomadas pelos personagens na série são punidas. Neste sentido, a componente formativa não é descurada.
A guionista lembrou ainda que os “Morangos com Açúcar” estão sinalizados pela TVI com um “10AP”, que recomenda que as crianças até aos 10 anos apenas devem ver a série acompanhadas pelos pais e encarregados.
De facto, e apesar desta recomendação, a verdade é que muitas das vezes isso não acontece.
Inês, apesar de ter apenas 5 anos, conta que a maior parte das vezes vê os “Morangos com Açúcar” sozinha. Já Tomás, de 7, raramente vê o programa sem ser acompanhado por um dos pais ou pelo irmão mais velho, até porque, por vezes, como ele próprio refere, há coisas que não entende bem.
O psicólogo Marco Santos alerta para a importância de um acompanhamento de perto por parte dos pais, que, para ele, têm um papel primordial no supervisionamento da forma como as crianças absorvem a informação


transmitida pela série. Para Marco, hoje em dia há cada vez menos controlo dos pais em relação ao que os filhos vêem na televisão: “Os pais não sabem a que horas as crianças vêem televisão; não sabem o que vêem e o que não vêem”. “É muito importante que as crianças nestas idades [4 a 12 anos] vejam os ‘Morangos com Açúcar’ acompanhadas por alguém que faça um trabalho sobre as significações.” – refere – “Cada criança retira do episódio que vê significados diferentes daqueles que estão inerentes ao guião em si, e é nisso que convém que os pais tenham mais controlo”.
Também Rosa Andrade costuma acompanhar o seu filho mais novo no visionamento da série. No entanto, não atribui grande importância a esse controlo, pois entende que existe um cuidado particular na abordagem dos temas. Rosa entende que o facto dos filhos verem a série pode, na medida certa, ser até bastante saudável: “Acho que nos ‘Morangos’ podemos rever os problemas dos miúdos de agora”. Vasco, o filho mais velho, alerta precisamente para este facto: “Os problemas deles são problemas que os rapazes e raparigas da minha idade também têm, ás vezes.”
Natália Nunes, mãe de Sofia, de 8 anos, aborda os “Morangos com Açúcar” dum ponto de vista mais desconfiado: “Acho que a série é muito orientada para adolescentes e não tem muito em conta que as crianças também vêem.”
Marco, contrapondo a sua profissão de psicólogo com o seu papel de pai de uma menina de 11 anos, refere como coordena o visionamento da série por parte da filha: “Ela vê a série, mas de uma forma irregular, porque lhe impus a regra de ver os ‘Morangos’ acompanhada. Houve particularmente uma altura em que a série falava em termos de sexualidade em conceitos que provocavam dúvidas junto das crianças, e que não eram trabalhados. Assim era mais uma informação que, entre amigas, era ‘empolada’. Neste sentido, os ‘Morangos com Açúcar’ podem não ser uma forma de educar mas de promover determinados ‘ruídos’ na educação das crianças”.
Apesar do papel dos pais ser, neste sentido, primordial, existem outras entidades a quem também pode caber uma fatia da preocupação em relação aos conteúdos absorvidos pelas crianças no visionamento desta série.
O papel da Escola, apesar de não ser fulcral, também pode ser importante. Para Marco Santos, a Escola, apesar de não poder ter qualquer tipo de controlo sobre aquilo que as crianças vêem, pode intervir de outra forma: “As Escolas têm as componentes de formação cívica, onde eventualmente poderiam abordar estas questões relacionadas com o impacto da televisão e deste tipo de séries em concreto no dia a dia das crianças”.
Também Cristina Gomes, no seu papel de educadora, reconhece que a Escola poderá ajudar na compreensão de algumas temáticas abordadas nos “Morangos com Açúcar”, trabalhando-as dentro da sala de aulas com os alunos. No entanto salienta que essa função é essencialmente dos pais e encarregados de educação: “Eu penso que é muito importante os pais acompanharem os filhos enquanto eles vêem a série, principalmente porque eles podem não perceber muito bem porque é que algo aconteceu assim, ou porque é que estão a falar de determinada maneira, ou a tomar determinada atitude, e se houver um adulto por perto que os ajude e explique porque é que estão a ter um determinado comportamento, isso é muito importante”.
Marco Santos refere ainda a importância da sensibilidade dos argumentistas da série em relação a estas questões. Para o psicólogo, os autores do guião “deveriam ter um papel mais educativo”, tendo em conta o facto de que crianças bastante pequenas também vêem a série com assiduidade. Nesta perspectiva Marco salienta que, em Portugal, esta função educativa das séries juvenis é muitas vezes secundarizada “em nome da competitividade e das audiências”.
Inês Gomes, em entrevista ao jornal “Correio da Manhã”, salienta precisamente a preocupação da equipa de argumentistas da Casa da Criação em sensibilizar os jovens para problemas como a toxicodependência. A argumentista refere que “o público jovem tem tendência para rejeitar campanhas de moralização”, o que faz com que os responsáveis da série sintam necessidade de abordar de outra forma as temáticas para as quais querem chamar a atenção: “só mostrando os comportamentos de risco podemos fazer uma prevenção eficaz”, refere. Nesta perspectiva, “Morangos com Açúcar” reveste-se de uma componente educacional que não deve passar despercebida. Inês Gomes salienta a este respeito que “cada vez mais há pais e educadores que sugerem o aproveitamento dos ‘Morangos com Açúcar’ numa vertente pedagógica”.

Como supervisionar?
Para Marco Santos a responsabilidade parental deve ser aplicada com cuidado e perspicácia. Segundo o psicólogo, a simples proibição de ver a série é uma medida errada, dado que “massivamente há muitas crianças que vêem a série e é lógico que a criança que não vê pode até ser excluída por isso, uma vez que os ‘Morangos’ dominam os temas de conversa”.
Também Natália Nunes tem consciência desta realidade, referindo que, se por acaso a sua filha de 8 anos não pode ver um episódio da série, no dia seguinte há sempre algum colega que lhe conta pormenorizadamente o que aconteceu.
O controlo parental deve, então, tanto para Marco como para Natália, passar apenas pelo visionamento da série com os filhos, procurando explicar-lhes certas temáticas, mas nunca enveredando pelo caminho da proibição.
Os “Morangos com Açúcar” podem, no entanto, passar mensagens muito positivas, e constituir-se como um auxiliar importante para os pais na forma de educação dos seus filhos, como, de resto, entende Rosa Andrade. Para esta mãe, o facto da série abordar alguns problemas comuns que também afectam as crianças e adolescentes pode ser uma mais valia.
A abordagem de temas como a toxicodependência, a diabetes, as doenças sexualmente transmitíveis, a delinquência juvenil, o bullying, entre outros, pode alertar as crianças e jovens para estas realidades, e, neste sentido, os “Morangos com Açúcar” revestem-se de uma componente mais formativa.
O facto da série apelar ao convívio com os amigos e à prática de desporto pode também ser visto como um factor positivo. Desde o início da série já foram divulgados vários tipos de desportos, alguns até então algo desconhecidos e que depois de fazerem parte da realidade de “Morangos com Açúcar” viram o seu número de simpatizantes crescer a olhos vistos, como é o caso do “downhill”.
Cláudia Teles Vieira, professora de Matemática, considera importante que os próprios professores tentem acompanhar os acontecimentos em “Morangos com Açúcar”, de forma a poderem eles próprios interpretá-los e explicá-los aos alunos.
Cláudia tem consciência do grande impacto da série no público infantil e juvenil, e por isso mesmo tenta usar esse impacto a seu favor, na dura tarefa de fazer com que os alunos se interessem pela Matemática. Uma das como o faz é enunciando os problemas matemáticos com personagens da série: “Começo os problemas com ‘Zé Milho foi comprar…’, ou algo parecido. Desta forma os alunos interessam-se mais”, refere.

Geração “Morangos”
Apesar de todas as questões que hoje se levantam sobre o impacto dos “Morangos com Açúcar” nas crianças, a realidade é que esta série juvenil é cada vez mais uma referência indiscutível do panorama televisivo em Portugal, e tem uma presença cada vez mais vincada na vida quotidiana do público infanto-juvenil português.
Acontecimentos como a imitação de sintomas de personagens da série por um grande número de crianças, ou o grande impacto que a morte de um dos protagonistas causou junto dos mais novos vieram chamar a atenção para uma realidade que já se vinha a consolidar há algum tempo: é a chamada “morangomania”, que ganha cada vez mais adeptos entre as crianças portuguesas.
A verdade é que a grande maioria das crianças portuguesas acompanha incondicionalmente os desenvolvimentos da série, imitando na sua forma de vestir e de falar as personagens, com as quais se identificam e com as quais criam ódios e empatias, como se de amigos verdadeiros se tratassem.
Sendo assim, estas crianças e jovens importam da ficção um conjunto de comportamentos, atitudes, linguagens e estilos que, a pouco e pouco, se tornam elementos constituintes da identidade desta geração.